Crusoé - Edição 123 02020-09-05)

(Antfer) #1
04/09/ 20

Viviane de Oliveira assumiu o
posto de coordenadora em março.
Dois meses depois, enviou um
relatório a Aras levantando suspeitas
de que não haveria “livre
distribuição” de processos na Lava
Jato. A denúncia teria motivado o
procurador-geral a atacar
publicamente o grupo paulista
durante a live com a presença de
advogados lulistas para a TV do PT,
quando Aras fez um ataque frontal à
Lava Jato e chegou a dizer que era
preciso “corrigir rumos” e acabar
com o “lavajatismo”. O palco
escolhido não poderia ser mais
adequado.


De fato, não se pode perder de
vista que foi o PT, desde antes da
prisão de Lula, quem iniciou a
campanha para demolir a Lava Jato.
Mobilizou sua tropa contra o então
juiz Sergio Moro, tentou nomear
ministros em tribunais superiores
compromissados em frear a
operação, valeu-se de blogueiros
aliados com o intuito de desacreditar
o trabalho e até hackers apareceram
na trama para desqualificar os
investigadores que atuavam na linha
de frente da operação – Deltan
Dallagnol incluído.


Enquanto bolsonaristas
refugiaram-se oportunamente no
silêncio, deputados petistas
comemoraram, nas redes, a
despedida de Dallagnol. O paulista
Paulo Teixeira disse que “o
procurador Dallagnol prestou grande
desserviço ao país”. A atmosfera de
festa nos grupos de WhatsApp e em
blogs ligados ao PT teve um sabor
ainda mais especial: além do


desligamento do procurador, a
semana ainda os brindou com a
absolvição de Lula no TRF-1 no
caso das palestras pagas pela
Odebrecht. Uniram-se ainda na
comemoração figurões do PSDB e
advogados criminalistas com clientes
enrolados na Lava Jato. Para eles, a
troca de comando deve diminuir o
ritmo do andamento dos casos.
Senão apenas pela ausência de
Dallagnol, mas pelo tempo que deve
levar o novo coordenador da Lava
Jato para se inteirar do trabalho.

Guindado à chefia da força-tarefa
da Lava Jato em Curitiba, o
procurador Alessandro José
Fernandes de Oliveira pode até ser
considerado entre os colegas como
um profissional discreto, sério e
dedicado. Mas, internamente no
MPF, o clima é de preocupação
com o que vem por aí. Oliveira,
desde janeiro de 2018, integrava o
grupo de trabalho da Lava Jato na
PGR. Atuava em ações que correm
nas cortes superiores, especialmente
em casos de investigados com foro

especial. Em junho, ele deu
indicações sobre de que lado ele está:
resolveu não acompanhar os três
colegas que deixaram o núcleo de
Brasília, em resposta à tentativa da
coordenadora, Lindôra Araújo,
braço direito de Aras, de acessar
dados sigilosos da força-tarefa em
Curitiba.

A próxima batalha a ser travada
em nome da sobrevivência do que
restou da operação ocorrerá na
semana que vem. No dia 10, Aras
decidirá se a força-tarefa da Lava
Jato será prorrogada e por quanto
tempo. Há material para ao menos
mais 15 fases da operação para os
próximos meses, além de 300
investigações em andamento que
poderão resultar em novas
denúncias. E ao menos cinco novos
acordos de delação estão prontos
para homologação ou em fase de
negociação. Aras estaria inclinado a
prorrogar a força-tarefa em Curitiba
por um prazo mais curto, algo em
torno de 60 dias, e com número
menor de integrantes, o que
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