Crusoé - Edição 123 02020-09-05)

(Antfer) #1
04/09/ 20

letra fria da lei que rege a atuação de
magistrados, tornaria o ministro
suspeito para julgar os recursos de
Serra.


Com aval do juiz federal, o
material seria enviado durante o
recesso de julho para o gabinete do
PGR, a quem compete fazer pedidos
de suspeição de ministros do STF.
A ação, porém, foi frustrada pela
liminar de Toffoli, que mandou lacrar
todo o material reunido até então
pelos investigadores – o que incluía,
evidentemente, as mensagens.


Tão logo retornou ao trabalho, em
agosto, aconteceu exatamente o que
os procuradores se prepararam para
evitar: Gilmar Mendes assumiu os
casos que o presidente havia
paralisado e passou a proferir suas
decisões, todas favoráveis a Serra.
Como mostrou Crusoé, no dia 20 de
agosto o ministro determinou a
suspensão da ação penal contra
Serra e a filha, que já haviam se
tornado réus na 6ª Vara da Justiça
Federal de São Paulo pela suposta


lavagem de dinheiro ilícito pago pela
Odebrecht em uma conta controlada
por Verônica Serra na Suíça. Depois,
o ministro foi além. Ordenou que o
Ministério Público desse aos
advogados de Serra “acesso
imediato” a “tudo o que contra ele
houver” nas seis investigações em
andamento na Lava Jato paulista.

Não se sabe se foi um possível
vazamento do pedido de suspeição
de Gilmar que levou Toffoli a brecar
tudo nos últimos dias do plantão, mas
a investigação envolvendo Serra
entra no rol das “incompatibilidades
insolúveis” que levaram sete
procuradores da força-tarefa paulista
a se demitirem na última terça-feira.
Em uma manifestação enviada a
membros do Conselho Superior do
MPF, os investigadores afirmaram
que além do “desmonte” do grupo,
com a redistribuição de inquéritos
conexos aos investigados por eles, a
procuradora Viviane Martinez, dona
do gabinete oficialmente habilitado
para receber os casos da Lava Jato,
tentou adiar a operação deflagrada

contra Serra no início de julho.

Viviane, segundo seus colegas
demissionários, queria deixar a
operação para depois da criação da
Unidade Nacional Anticorrupção, a
Unac, projeto encampado por Aras
para concentrar as grandes
investigações de corrupção na PGR
e que não tem prazo para sair do
papel.

Ainda em junho, os procuradores
descontentes escreveram para
Viviane no grupo que a força-tarefa
mantinha em um aplicativo de
mensagens. Disseram que a
investigação que ela queria protelar
“vinha consumindo uma enorme
quantidade de horas” dos colegas,
com “integrantes virando noites para
organizar as provas” e “preparar
uma operação que, pela primeira vez
na história, implicava a cúpula
paulista do Partido da Social
Democracia Brasileira em corrupção
e lavagem de capitais”. Apesar do
descontentamento coletivo, Viviane
manteve sua opinião.

Crusoé apurou que, dentro da
força-tarefa, a procuradora também
atrasou o andamento do pedido feito
ao juiz federal para compartilhar os
e-mails de Serra com a PGR, a fim
de embasar a suspeição de Gilmar
Mendes. Com as decisões de Toffoli,
mandando lacrar tudo, e do próprio
Gilmar, liberando o material à defesa
do tucano, ao menos por ora só os
advogados do senador têm acesso,
formalmente, às mensagens.

Na semana passada, quando os
defensores de Serra foram à sede da
Procuradoria em São Paulo para
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