Crusoé - Edição 123 02020-09-05)

(Antfer) #1
04/09/ 20

copiar o material sigiloso, Gilmar deu
uma decisão que beneficiou o ex-
governador na outra investigação que
lhe rendeu dor de cabeça em julho,
até ser suspensa por Toffoli.
Contrariando a jurisprudência do
Supremo, defendida por ele mesmo,
o ministro puxou para si a
investigação sobre o caixa dois de 5
milhões de reais da Qualicorp em
2014, que estava na Justiça Eleitoral
por decisão da corte. A decisão de
Gilmar saiu duas semanas antes dos
crimes supostamente praticados por
Serra prescreverem. Mais uma vez,
o ministro deu razão à defesa do
tucano e reconheceu o foro
privilegiado de Serra no caso, pelo
fato de a PF investigar fatos que
poderiam ter relação com o atual
mandato do senador, iniciado em
2015, o que os investigadores
negam.


Mensagens apreendidas pela
Lava Jato já haviam levado a um
pedido de suspeição de Gilmar
Mendes em investigação relacionada
a outro grão-tucano, o ex-ministro e
ex-senador Aloysio Nunes Ferreira.
Em março do ano passado, a força-
tarefa de Curitiba pediu para a PGR
solicitar o afastamento do ministro
após identificar, por meio dos
registros telefônicas, que Aloysio
atuou junto a Gilmar para interferir
nos processos envolvendo seu amigo
e operador tucano Paulo Vieira de
Souza, o Paulo Preto. O pedido foi
arquivado pela então procuradora-
geral, Raquel Dodge.


Condenado por fraude e
formação de cartel nas obras do
Rodoanel no governo de Serra em


São Paulo (2007-2010), o ex-diretor
da Dersa tinha acabado de ser preso
pela terceira vez – em 2018, em duas
oportunidades ele foi solto por
decisão de Gilmar. Na estatal
paulista, Paulo Preto era apadrinhado
de Aloysio. Durante a investigação,
os procuradores encontraram um
cartão de crédito entregue ao ex-
ministro em um hotel na Espanha
vinculado a uma conta mantida pelo
afilhado na Suíça.

Em uma das mensagens
apreendidas no celular de Aloysio,
Gilmar Mendes é tratado como
“nosso amigo”. Aos colegas detentos
do Complexo Médico Penal de
Pinhais, para onde vão os presos da
Lava Jato no Paraná, Paulo Preto se
referia a Gilmar como “goleiro”,
capaz de fazer milagres na defesa do
time.

A relação do ministro com
tucanos como Serra e Aloysio é
pública e histórica. Todos se
aproximaram no governo de
Fernando Henrique Cardoso. Gilmar
foi advogado-geral da União. Serra,

ministro da Saúde. Aloysio
comandou o Ministério da Justiça.
Paulo Preto era assessor especial da
Presidência da República.

Os encontros entre eles não se
limitavam aos gabinetes. Em 2017,
por exemplo, Gilmar ofereceu um
jantar em sua casa para comemorar
o aniversário de 75 anos de Serra.
Participaram do convescote outros
nomes de peso da política igualmente
enrolados com a Justiça, como o
então presidente Michel Temer, do
MDB, o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, do DEM, e o
deputado federal Aécio Neves, do
PSDB. Este último, também próximo
e beneficiado por decisões de
Gilmar.

Um relatório da Polícia Federal
apontou que entre fevereiro e maio
daquele ano, Aécio trocou 46
ligações via WhatsApp com um
número de telefone atribuído a
Gilmar. As chamadas ocorreram no
período em que o tucano já era
investigado no STF por suspeita de
ter recebido propina da JBS. Uma
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