Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1

O



  1. EXAME. SETEMBRO 2020


Os alicerces do mercado imobiliário apa-
rentam ter aguentado o impacto violen-
to do choque económico provocado pela
pandemia e o desempenho do mercado
foi o oposto do que algumas entidades te-
miam. Os preços das casas deram sinais
de resistência durante os sete primeiros
meses do ano, apesar de estarmos a pas-
sar por uma das maiores contrações eco-
nómicas da História e de o interesse dos
investidores estrangeiros ter esbarrado
nas limitações das deslocações entre paí-
ses. Ainda antes da Covid-19 ter virado o
mundo ao contrário, a subida expressiva
nos preços do imobiliário já tinha dado
origem a alertas de que o setor estava a
ficar vulnerável. Mas, por enquanto, estes
ativos estão a resistir. Esta aparente soli-
dez é sinal de que o imobiliário se tornou
efetivamente um refúgio imune a crises?
A resposta pode não ser assim tão simples
e há várias explicações para o comporta-
mento dos últimos meses. E mesmo com
o mercado esperançado num choque tem-
porário e numa retoma assim que se en-
contrar uma vacina ou tratamento para a
pandemia, há receios de que a crise possa
vir mais tarde bater à porta do imobiliário.
Para já, o mercado foi escorado por
apoios temporários importantes que o im-
pediram de ceder ao peso desta crise. “Exis-
tem três fatores que explicam a ausência de
uma queda dos preços dos imóveis no pri-
meiro semestre de 2020: moratórias, layoff
simplificado e política monetária do Banco
Central Europeu [BCE]”, afirma João Duar-
te, professor da Nova SBE. “Todos estes fa-
tores podem ser vistos como bombas de
oxigénio que ajudaram a manter os preços
da habitação estáveis”, explica o docente,
que tem entre as suas áreas de investigação
a ligação entre o mercado habitacional e a
política monetária. A grande dúvida é como
irá o mercado manter-se à tona quando es-
tas “boias” esvaziarem, já que muitas delas
são provisórias.
Seja apenas por essas ajudas ou tam-
bém por dinâmicas próprias do merca-
do, os dados disponíveis indiciam que o
imobiliário mostrou solidez no primeiro
impacto da crise. O Instituto Nacional de
Estatística (INE) ainda não divulgou os pre-
ços nas transações de imóveis no segundo
trimestre do ano, mas, segundo informa-
ções disponibilizadas à EXAME pela Con-

fidencial Imobiliário, não houve sufoco. O
índice de preços residenciais – calculado
pela consultora a partir de valores de ven-
da reportados por empresas de mediação,
promoção e investimento imobiliário –
mostra uma valorização de 5,7% no pri-
meiro semestre. Também as análises dos
diversos portais de imobiliário, que inci-
dem não sobre transações mas nos valores
dos anúncios colocados, mostram subidas
no primeiro semestre. No entanto, no mês
de julho já se começou a notar uma descida
ligeira (de 0,2%) nos preços das transações
medidas pela Confidencial Imobiliário e de
1,7% nos preços médios de venda no portal
Imovirtual.
As indicações de resistência do mer-
cado têm sido confirmadas também pelos
números da avaliação bancária. Apesar de
não ter indicado ainda os montantes dos
preços reais das transações, o INE dispõe

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