Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 17

mista da Deco Proteste especializado em
imobiliário, observa que “a incerteza pro-
vocada pela pandemia veio criar um jogo
de paciência entre compradores e vende-
dores”. Detalha que “tal como os compra-
dores são agentes racionais e atualmen-
te já estarão a aguardar que os preços se
ajustem às suas possibilidades económicas
atuais ou futuras, quem constrói ou vende
vai tentar não praticar qualquer desconto
nesta fase”. Nada que surpreenda Joaquim
Montezuma: “Existe a evidência empírica
de que os compradores tendem a respon-
der de forma mais célere do que os ven-
dedores às alterações de mercado. Com o
advento de más noticias ou elevada incer-
teza, os vendedores mantêm o preço e há
menos transações.”
As moratórias e as medidas de apoio à
manutenção dos postos de trabalho ajuda-
ram assim a prevenir um choque de liqui-
dez nas famílias que as forçasse a vender.
Ricardo Guimarães explica que “enquanto
proprietário, se não tiver uma necessidade
importante de liquidez e que esteja condi-
cionado a fazer uma venda ao melhor pre-
ço, o que se vai fazer é esperar e não tomar
decisões”. Já Ricardo Sousa, CEO da Cen-
tury 21 Portugal, nota que “quem está no
mercado tem uma expectativa de comprar
com desconto” e que este desfasamento
entre compradores à procura de descon-
tos e proprietários pacientes já provocou
“um aumento do tempo médio de venda”.
A grande dúvida é se essa quebra no
número de negócios se deve sobretudo aos
constrangimentos provocados pela pande-
mia ou por uma machadada na confiança
que conduza a uma descida estrutural na
procura. João Pisco, analista do Bankinter,
não antevê um choque permanente no inte-
resse pelo imobiliário português: “A quebra
no volume de transações durante o período
de confinamento parece-nos natural, tendo
em conta os receios de contágio e a enor-
me incerteza quanto ao futuro. Não cremos,
portanto, que tal reflita uma quebra abrupta
e permanente na procura por casas.”
Essa expectativa ainda terá de ser con-
firmada com os dados vindos do mercado
nos próximos trimestres. Mas os sinais che-
gados das imobiliárias dão algum ânimo ao
setor. Após a seca de negócios durante o
estado de emergência, há indícios de que
a procura está também a desconfinar. “Em

A PANDEMIA
MUDOU A CASA
IDEAL?

O período de confinamento
e distanciamento social
alterou as características
procuradas num imóvel

> MUDAR DE CASA
E REIMAGINAR O ESPAÇO

Segundo um inquérito feito pela JLL,
43% dos portugueses mudariam de
casa como consequência da pandemia.
E 15% gostariam de mudar-se para
fora dos centros urbanos. O estudo
da consultora imobiliária envolveu as
respostas de 1 376 inquiridos e conclui
que “a casa do ‘pós-Covid’ terá os seus
espaços reimaginados de modo a
acomodar prioridades que se criaram
com a intensa vivência durante o confi-
namento”.

> ESPAÇO EXTERIOR
E TELETRABALHO

Quase metade dos inquiridos pela JLL
equaciona fazer ajustes na casa e há
mais portugueses a considerarem mui-
to importante a existência de espaço
exterior privado e de espaço privado de
trabalho. As subidas nos inquiridos que
realçam essas características foram su-
periores a 20 pontos percentuais face
ao que se verificava antes da pandemia,
segundo a consultora.

> MORADIAS E TERRENOS
FORA DAS CIDADES

Nos sites das imobiliárias, as pesquisas
por moradias, quintas e terrenos, mui-
tas vezes fora das cidades, dispararam.
Mas, apesar do maior interesse de-
monstrado nessas pesquisas, Ricardo
Sousa não notou alterações nos perfis
dos negócios feitos, tanto em área
como no tipo de clientes. Em muitas
situações, entre o que se pesquisa e o
que se pode comprar vai, porém, uma
grande distância. “A diferença entre o
aspiracional e o real aumentou”, indica
o CEO da Century 21 Portugal. Além
disso, a mudança de localização pode
não ser muito simples para a maioria
das famílias.

Esta menor liquidez no mercado leva
Filipe Garcia a mostrar algum ceticismo
sobre as conclusões que se podem retirar
da evolução dos preços na primeira metade
do ano. “Há que ter alguma cautela na aná-
lise dos preços médios de transação porque
podem ser pouco representativos e con-
centrados num segmento mais alto.” Além
da natural contração da procura num ce-
nário de queda violenta da atividade eco-
nómica, as limitações no produto também
podem estar a contribuir para essa menor
liquidez. Beatriz Rubio afirma que a redu-
ção do número de novas transações não se
deveu apenas à procura mas também ao
congelamento de parte da oferta. “Foram
dois movimentos simultâneos que acaba-
ram por ditar, paralelamente, uma estabi-
lidade dos preços”, indica a responsável da
Remax Portugal.
O mercado está a passar por uma fase
de desencontro. Filipe Campos, econo-

NORTE

ALENTEJO

CENTRO

ALGARVE

FONTE:

CONFIDENCIAL IMOBILIÁRIO

-22,29%


-16,57%


32,63%


-50,43%

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