Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
PESO DO CRÉDITO
Valores em percentagem
Do total das compras de casas, apenas
44% do valor foi obtido com recurso
a crédito bancário. Proporção é mais
baixa do que na última crise

STOCK
DE EMPRÉSTIMOS
Valores em milhões de euros
O montante total de crédito no balanço
dos bancos é mais baixo do que
na última crise, o que retira algum
risco para o setor

TORNEIRA
NÃO FECHOU
Valores em milhões de euros
Apesar da “seca” de negócio e de crité-
rios mais restritivos, o novo crédito não
teve uma queda significativa nos
últimos meses, o que deu algum
suporte ao mercado

64,6%

44 %

113 603,

833

93 447,

553


  1. EXAME. SETEMBRO 2020


março, as transações baixaram, em abril,
caíram significativamente mais. Mas, em
maio e junho, já recuperámos e julho já foi
um mês em linha com 2019. Aliás, estamos
6% acima do mesmo mês do ano passado.
No acumulado do ano estamos com quebra
de 5% no volume de negócios”, revela Ri-
cardo Sousa. O CEO da Century 21 Portugal
sublinha que “houve um número grande
de adiamentos dos processos, mas os pro-
jetos de compra mantiveram-se ativos. Não
houve anulação de negócios, mas sim um
adiamento das operações. E como não se
registaram cancelamentos, isso transmite
ao mercado um sentimento de confiança”.
O responsável da rede imobiliária começou
a notar, após a Páscoa, “níveis-recorde de
procura e de pesquisas no site, assim como
de pedidos de informação, nacionais e in-
ternacionais”.
Apesar de começarem a existir sinais
de maior atividade, Ricardo Sousa realça
que resta saber se é uma retoma da procura
que ficou suspensa nos últimos meses, ou
se o mercado está a gerar novos negócios e
clientes. A resposta só deverá chegar mais
para o final do ano. Até porque, sublinha
Joaquim Montezuma, “neste momento,
existe alguma confusão entre a descida da
procura provocada pelas condicionantes
administrativas do confinamento e a que-
bra decorrente das alterações económicas”.


O FIM DAS MORATÓRIAS E O RISCO
DE PRECIPÍCIO NO IMOBILIÁRIO


Para supervisores, economistas e ban-
queiros, um dos momentos mais temidos
é quando se chegar ao fim das moratórias
no crédito. O antigo governador do Banco
de Portugal, Carlos Costa, chegou a alertar
para um “efeito precipício”. E o presiden-
te do Santander, Pedro Castro e Almeida,
afirmou numa apresentação de resultados
que chegaria nessa altura o “grande tsuna-
mi”. Assim, não é de estranhar que Filipe
Garcia considere “o fim das moratórias,
num cenário de economia em recessão,
um dos principais riscos para o mercado
imobiliário”.
Além de aliviarem a pressão na tesou-
raria de famílias e empresas com os ren-
dimentos atingidos pela crise, estes ins-
trumentos permitem também aos bancos
controlarem, para já, a subida do malpa-
rado, evitando assim perdas e pressão so-


bre os seus rácios de capital. Mas as ins-
tituições financeiras já se vão preparando
para esse embate, reforçando o dinheiro
que põem de lado para assumir poten-
ciais prejuízos com as suas carteiras de
crédito. No primeiro semestre, os maiores
bancos constituíram, segundo contas do
jornal Eco, mais de 580 milhões de eu-
ros em provisões e imparidades para se
começarem já a precaver face à provável
degradação da carteira de crédito.
Dada a dimensão que esta crise tem
tido nos rendimentos de muitas famílias,
o Governo tem prolongado o período de
vigência das moratórias. A última atuali-
zação estendeu esse apoio até ao final de
março do próximo ano. E será nessa al-
tura que poderá haver um maior risco do

80

70

60

50

40

30

20

120000

100000

80000

1 200

1 000

800

600

400

2010

2017

2009

2020

2020

2019
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