Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 31

No entanto, já há empresários a tentarem
mudar a abordagem na internacionali-
zação para conter parte dos estragos. O
inquérito, em que participaram 3 247 em-
presas exportadoras, mostrou que “14,2%
das empresas respondentes alteraram ou
pretendem alterar a sua estratégia de pro-
dução e de exportação”. Entre as princi-
pais táticas para mitigar o efeito da cri-
se, estão a diversificação de mercados de
destino, o recentrar das exportações nos
mercados da UE ou a mudança
de fornecedores.
No caso da agricultura,
Gonçalo Santos Andrade con-
sidera que as empresas têm
reagido bem às recentes difi-
culdades: “Estamos otimistas
que vão continuar a surgir mais
oportunidades de exportação e inter-
nacionalização para as empresas por-
tuguesas.” A estratégia passa agora por
“consolidar os clientes existentes e maxi-
mizar os contactos efetuados nos últimos
anos nas feiras internacionais, missões
empresariais e de prospeção”. O presi-
dente-executivo da Portugal Fresh realça
ainda que “o reforço do investimento na
promoção, exportação e internacionali-
zação é vital para o setor”, prevendo que
retome no pós-pandemia.
Destruídas cadeias de valor e baralha-
das as peças do comércio mundial, os paí-
ses tentam perceber as melhores formas
de darem a volta à situação provocada nos
últimos meses. Em Portugal, o Gabinete de
Estratégia e Estudos do Ministério da Eco-
nomia (GEE) desenvolveu um estudo para
perceber se existiam oportunidades para
as exportações portuguesas. Guida No-
gueira e Paulo Inácio, que assinam o rela-
tório, consideram que, “num contexto de
elevada incerteza quanto à retoma da ati-
vidade económica fora da UE, alguns se-
tores da economia portuguesa podem ser
ativados, pelo menos temporariamente,
para abastecer os mercados da UE, subs-
tituindo os respetivos fornecedores de ori-
gem extracomunitária”. Explicam que, na
literatura do comércio internacional, este
fenómeno é conhecido como um efeito de
desvio de comércio e que, nesse cenário,
se cria uma oportunidade importante para
que as empresas portuguesas absorvam
competências, no curto prazo, ganhem

significativo, mas é um reflexo da
aposta cada vez mais forte que al-
guns setores estão a fazer em merca-
dos fora da UE. Gonçalo Santos Andrade,
por exemplo, refere que, apesar do Velho
Continente ser o maior destino das frutas,
legumes e flores produzidas em Portugal,
“os mercados asiáticos, nomeadamente
a China, a Índia e a Indo-
nésia, são mercados nos
quais pretendemos conti-
nuar a apostar nos próxi-
mos anos”. Além daqueles
países, as exportações para a Dinamar-
ca e Israel também não quebraram.
Nos PALOP, houve um ligeiro acrésci-
mo dos bens vendidos para Cabo Verde e
Moçambique.

ADAPTAR AO DESVIO DE COMÉRCIO
Apesar de alguns oásis de exportação que
se mantiveram nos últimos meses, não
há grande escapatória a um ano de re-
trocesso nas vendas de bens para o ex-
terior. O Inquérito sobre Perspetivas de
Exportação de Bens, realizado pelo INE
em junho, mostrou que as perspetivas
dos empresários portugueses relativas às
exportações em 2020 não são muito ani-
madoras. Para o total do ano a expectativa
é de que desçam 13%, muito devido aos
efeitos associados ao novo coronavírus.

AUMENTOS DAS VENDAS
AO EXTERIOR

Mercados onde as exportações
portuguesas subiram no primeiro
semestre, em termos homólogos

MAIORES QUEBRAS
NAS EXPORTAÇÕES

Onde mais caíram as vendas
de bens portugueses

TA I WA N
31,7

JORDÂNIA
8,7

ISRAEL
10,9

MOÇAMBIQUE
8,5


COREIA
DO SUL
19,5

JAPÃO
25,3

44%
Peso
As vendas de bens e serviços
ao exterior representavam 44%
do PIB em 2019. Objetivo é recuperar
essa importância até 2022

-25,3%
Contração
Queda prevista, este ano, nas
exportações de bens e serviços
pelo Banco de Portugal, que projeta
uma recuperação lenta devido
ao impacto no turismo

OS OÁSIS E AS ROTAS AFETADAS


As vendas para os maiores parceiros comerciais do País tiveram tombos
significativos, no primeiro semestre. Mas houve mercados em que
as exportações de bens nacionais subiram, segundo os dados do INE
(Valores em milhões de euros)
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