Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 37

o mundo mais bonito”, sentiu que tinha
feito a escolha certa.

Já disse que este será “um ano triste”.
Para quem tem um negócio assente em
vinho, hotelaria e turismo, como vai so-
breviver?
Com o vinho, sobrevive-se graças à ex-
portação. Quanto ao mercado doméstico,
à medida que se vai abrindo, vai-se recu-
perando os clientes. Infelizmente, haverá
negócios que já não abrirão. Não só em
Portugal mas a nível geral.

Já quantificaram o impacto desta crise?
Quantificámos até junho: temos uma
queda de 25% no mercado nacional. Na
exportação, estamos ao mesmo nível de
junho do ano passado (e toco na madei-
ra...), está a comportar-se bem. A grande
quebra veio do turismo, menos 70% no
final de junho, devido ao fecho de todos
os espaços em meados de março.

Face a isto, que perspetivas tem para o
futuro?
Que tudo passe depressa, que se encon-
tre uma vacina e voltemos a viajar. Este
vai ser um ano triste, porque em 2019 ga-
nhámos uma boa dinâmica, construímos
um recorde de vendas que continuou em
janeiro e fevereiro, mas foi interrompido
em março. Este é um ano para tentar não
perder dinheiro. Não ganharemos muito,
comparado com outros anos.

Mas não recuaram no plano de investi-
mentos previstos. Até compraram, este
ano, a Quinta da Boavista, no Alto Douro.
Porque não divulgam o valor da aquisição?
Porque não é política do grupo. Posso di-
zer o valor total do investimento para este
ano, que inclui a Quinta da Boavista: 11 a
12 milhões de euros.

É só mais um negócio imobiliário, ou esta
compra vem acrescentar algo ao grupo?
A Sogevinus pertence ao Abanca [banco
espanhol com sede na Galiza, que inte-
gra o grupo venezuelano Banesco, deti-
do pelo milionário Juan Carlos Escotet].
Muitos pensam que estamos a fazer uma
operação financeira de curto prazo. Mas é
o contrário, estamos a investir. E esta é, de
facto, uma oportunidade para ter uvas de

grande qualidade, com uma marca con-
solidada, com muito potencial. E tam-
bém queremos aumentar receita com os
nossos vinhos. A Quinta da Boavista tem
duas vinhas velhas – a do Ujo e a do Ora-
tório – que produzem dois vinhos com 95
e 94 pontos de Robert Parker [crítico de
vinhos] e que atingiram um preço de ven-
da ao público de €195 cada garrafa. Enfim,
demos um salto que também nos interes-
sava. Tem também cerca de 30 hectares de
vinhedo e nove hectares de olival. É um
negócio com muito potencial, não direi a
curto prazo mas no futuro.

Mantém ainda o investimento de 30 mi-
lhões na reconstrução de um hotel víni-
co em Gaia? Sendo que o cenário mu-
dou completamente e os turistas podem
tardar a chegar, mudou algo na expec-
tativa de rentabilização desse hotel? Já
atrasaram a data de abertura no final de
2021 para o final do primeiro semestre
de 2022...
Exato. Fizemos um plano de negócios e,
abrindo em 2022, cremos que, nessa al-
tura, o turismo já tenha recuperado to-
talmente no Porto.

Não estão pessimistas?
Se estivéssemos tínhamos parado o pro-
jeto do hotel, porque o que gastámos e
investimos até agora é muito pouco. Mas
achamos que o Porto vai recuperar e cres-
cer. Estamos otimistas.

A Sogevinus cresce na exportação, mas
está muito vocacionada para as grandes
superfícies. Isso não é sinónimo de quan-
tidade em vez de qualidade?
Os principais mercados de exportação
para o vinho do Porto são a França, In-
glaterra, Dinamarca e Países Baixos. Aqui,
os supermercados representam cerca de
90% das vendas. Não é nos restaurantes,
como acontece em Portugal ou em Espa-
nha, onde a restauração tem mais peso.
Portanto, é certo que é nos supermerca-
dos que mais se vende. Também é certo
que, cada vez mais, o consumidor procura
qualidade. Estão a vender-se mais colhei-
tas, mais vintage, mais produtos de valor
elevado. Mas o grande volume, é óbvio,
é nos supermercados e ainda prevalece a
quantidade.

Por que razão


o vinho português


tem uma perceção


de menor


qualidade


do que o francês,


espanhol ou


italiano, se são


todos do Velho


Mundo?”

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