Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 39

Recuperar velocidade
Sergio Marly Caminal compara o impacto
da pandemia no negócio com meter travão
num carro a 200 km/hora. “É uma grande
frustração.” Mas acredita num reacelerar

ano fica melhor. Falta investir na promoção
dos vinhos DOC Douro no mundo, para
que se tornem conhecidos.


Podem ser um acréscimo ao valor da re-
gião?
Têm de ser. Até porque o mercado de vi-
nho do Porto está estável e, para crescer,
tem de se ganhar quota de mercado so-
bre os outros, não há outra maneira. Tem
de ser repartido e, se alguém ganhar dois,
alguém vai perder um. Nos DOC não, es-
tamos a falar de um mercado imenso, em
que há muitos produtores, a nível nacio-


nal e internacional, e aí sim, tem de se
promover a qualidade. Para nós, é clarís-
simo que a melhor via de crescimento é
associá-lo ao turismo.

Isso anula o facto de a produção do Dou-
ro, pelos seus constrangimentos, ser
muito cara?
Os custos de produção na região são maio-
res, a produção é menor por hectare. Sim,
temos uma série de restrições comparado
com qualquer outra região. Na Argentina,
onde vivi cinco anos, todos os vinhedos
são planos, é tudo muito mais fácil de re-
plantar, de mecanizar, exige menos custos
de mão de obra e a produção é maior. Para
mim, é claro que vamos ter de jogar com
a qualidade, pois não vamos poder com-
petir em quantidade ou em preços. Temos
de evidenciar que os nossos vinhos são
diferentes, porque a produção e as uvas
também são diferentes.

É importante vender isso ao mundo, ou é
suficiente o mercado doméstico?
A alternativa para os vinhos portugueses,
em geral, é abrirem-se ao mundo. Por que
razão um vinho português tem de ter uma
perceção menor de qualidade do que um
francês, espanhol ou italiano, quando são
todos vinhos do Velho Mundo? E em que
a qualidade é tão boa, se não melhor, do
que a destes três países? Não tem sentido.

Quando tem em competição um vinho
português e um vinho francês com o mes-
mo preço, consegue vender essa ideia?
Não. Porque por desgraça, para o consu-
midor, o vinho francês é como o unicór-
nio da qualidade. E depois são mais co-
nhecidos os espanhóis e os italianos do
que os portugueses. O problema, para
mim, é posicionar a mente do consumi-
dor para o facto de Portugal poder pro-
duzir – e produz – vinhos de qualidade
igual ou superior à de outros países do
Velho Mundo.

Mas como?
Há que investir, promover, conseguir pon-
tuações nas grandes revistas internacio-
nais. Hoje, o consumidor fixa-se muito
nestas pontuações. Tudo o que seja reu-
nir qualidade e subir a pontuação vai fa-
vorecer os vinhos portugueses.

APOSTA NO
ENOTURISMO

Quintas, caves, hotelaria e
restauração foram responsáveis
por 450 mil visitantes, em 2019

> QUINTA DA BOAVISTA

Foi a última aquisição da Sogevinus, o
grupo que já detém 360 hectares de
vinhas na Região Demarcada do Douro.
A quinta pertencia, desde 2013, ao
brasileiro Marcelo Lima e ao britânico
Tony Smith. É uma das mais antigas do
Douro, tendo passado pela gestão do
barão de Forrester. Tem dois vinhos que
captaram a atenção de Robert Parker,
com 94 e 95 pontos.

> HOTEL KOPKE

O novo hotel vínico de cinco estrelas,
com 250 quartos, a nascer na marginal
de Gaia, está orçamentado em €30
milhões e aproveita uma das marcas
mais antigas de vinho do Porto. O eno-
turismo é a grande aposta do grupo,
em simultâneo com a produção de
vinhos. Em 2019, as receitas do turismo
representaram já cerca de 20% dos
€40 milhões faturados.

> QUINTA DE SÃO LUIZ

Situada perto do Pinhão, foi reconstruí-
da e abrirá no próximo verão. Tem uma
dezena de quartos e uma adega-bou-
tique para a vinificação e estágio dos
vinhos tranquilos. A esta juntam-se
a Quinta do Bairro (Baixo Corgo), de
Arnozelo (Douro Superior) e uma adega
em S. Martinho de Anta para vinificação
de vinho do Porto.

> CAVES CÁLEM

É a grande porta de entrada de turistas,
mas a Sogevinus tem ainda as marcas
Velhotes (líder no mercado nacional),
Burmester, Barros e Casa Kopke. Nos
primeiros meses deste ano, recebiam
uma média de 1 500 visitas/dia. Após
o confinamento, em meados de julho,
o número desceu para os 150. Mas, em
meados de agosto, já tinha subido para
os 500, sinal de reativação.
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