Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 47

Mas, segundo a AFIA, a associação que re-
presenta o setor, em junho a queda já foi
atenuada, tendo as exportações caído “ape-
nas” 8% face a igual mês do ano passado.
Em termos de valor, o setor vendeu
3,75 mil milhões de euros ao exterior no
primeiro semestre do ano, uma descida
de 26% face ao mesmo período de 2019.
No que respeita à produção automóvel no
País, a queda acumulada ao longo do pri-
meiro semestre foi de 36,2%, uma clara
recuperação apesar do desempenho ne-
gativo, já que em abril a produção esteva
praticamente parada, tendo as fábricas
registado uma descida de 95,7% na saída
de automóveis.

PERDA DE EMPREGOS
A queda nas vendas de automóveis está a
levar ao encerramento de muitas unida-
des fabris um pouco em todo o mundo.
Este encerramento põe em causa milhões
de postos de trabalho, diretos e indiretos.
Na Alemanha, onde a queda da produção
foi de 44% nos primeiros cinco meses do
ano, “cerca de 15% dos postos de trabalho
da indústria automóvel estão em risco nos
próximos 18 meses”, diz Christian Malorny,
chefe do departamento automóvel da con-
sultora Kearney. Esta percentagem equivale
a cerca de 130 mil empregos. A Daimler,
dona da Mercedes, já admitiu que poderá
ter de cortar 15 mil postos de trabalho nas
suas fábricas. E esta crise provoca um efei-
to de arrasto a todas as outras indústrias a
ela ligadas. Só o setor metalúrgico alemão
poderá despedir 80 mil funcionários de-
vido à crise automóvel. E nem o facto de
a indústria automóvel ter recebido a fatia
de leão do pacote de estímulos de 130 mil

2019
2020
Variação

igual período do ano passado. No Japão,
os sete grandes construtores registaram
quebras de vendas de 21,3%, em junho. A
única exceção é a China que, em julho, já
conseguiu uma subida de 7,7% nas transa-
ções, o que dá alguns sinais de esperança
à indústria.
Apesar de todo este turbilhão, a fusão
dos Grupos PSA (Peugeot, Citroën, Opel
e DS) e FCA (Fiat, Chrysler, Dodge, Alfa
Romeo, entre outras), anunciada no final
do ano passado, vai seguindo lentamente
o seu curso. Carlos Tavares, presidente da
PSA, garante que o negócio, avaliado em
50 mil milhões de euros, “está a cumprir a
agenda que estava delineada” e que deverá
estar concluído “até ao final do primeiro
trimestre do próximo ano”. “A fusão com
a FCA é, entre todas as soluções, a me-
lhor para enfrentar esta crise e as incer-
tezas que ela está a gerar”, afirma o gestor
português.

DANOS COLATERAIS
Com algumas unidades fechadas ou a
funcionar parcialmente, os fabricantes de
componentes para a indústria automóvel
também estão a ser fortemente afetados.
A situação começa agora a melhorar em
Portugal, onde este setor, com uma fatura-
ção de 12 mil milhões de euros, representa
6% do PIB e vende ao exterior 9,7 mil mi-
lhões de euros, o que corresponde a 16%
das exportações de bens transacionáveis.
Ao longo dos últimos quatro meses, as
exportações de componentes para auto-
móveis registaram quedas abruptas – 26%,
em março, 76%, em abril, e 57%, em maio.
Uma situação que lançou alertas num setor
fundamental para a economia portuguesa.

AVA N ÇOS E R E C U OS


A pandemia está provocar
alterações no setor automóvel
e nos novos conceitos de
mobilidade. E nem todas são más

CURTO PRAZO



ECONOMIA




  • Quebra na procura

  • Fábricas encerradas

  • Interrupção das cadeias de fornecimento

  • Perda de milhões de postos de trabalho

  • Queda nas exportações

  • Descida do preço dos combustíveis



TECNOLOGIA




  • Quebra do investimento em investiga-
    ção e desenvolvimento para fazer
    face às necessidades de tesouraria

  • Suspensão da maioria dos testes
    dos veículos autónomos

  • Redução do investimento
    em startups de mobilidade

  • Aceleração dos chamados
    táxis-robôs na China



CONSUMO




  • Redução dos quilómetros percorridos
    devido ao teletrabalho

  • Maior uso do veículo pessoal em detri-
    mento dos transportes públicos

  • Menor utilização dos serviços partilha-
    dos de mobilidade


MÉDIO PRAZO



ECONOMIA




  • Procura atinge níveis pré-Covid

  • Fábricas regressam ao normal

  • Cadeias de fornecimento estabilizam

  • Crescimento será mais lento do que o
    previsto



TECNOLOGIA




  • Movimento de consolidação de empre-
    sas de soluções de mobilidade

  • Maior foco dos construtores
    nos veículos elétricos

  • Recuperação do investimento nos
    veículos autónomos



CONSUMO




  • Mobilidade rodoviária
    torna-se dominante

  • Aquisição de veículos elétricos e híbridos
    nivelada com as outras tecnologias

  • Maior adoção de múltiplas
    formas de transporte


17,6 13,4

-23,9% 28,4
23

-19%

90

71,9

-20,1%

25,7

-14,8%

21,9 18,3

-25,7%

13,6

100

80

60

40

20

0

> T R AVAG E M F O R Ç A DA

Apesar de alguns sinais de recupera-
ção, o setor automóvel poderá sofrer
uma quebra de 20% no final de 2020.
(Vendas em milhões de unidades)

CHINA UNIÃO EUROPEIA EUA RESTO DO MUNDO TOTAL
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