Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 65

alento às boas ideias que surgem no Interior
e que, por falta de financiamento, não con-
seguem ser implementadas. O nosso obje-
tivo é que os territórios possam trabalhar
de uma forma sinérgica, em rede, porque
quando pensamos no turismo, mais do que
trabalhar projetos-âncora, é preciso traba-
lhar nas redes que garantam que o turista
fica mais tempo no território. Temos cres-
cido em todos os indicadores: mais turis-
tas, mais receita turística, mas há um em
que estamos a crescer pouco, e em alguns
territórios estamos mesmo a diminuir. A es-
tada média em Portugal é de 2,7 dias e se
analisarmos o Interior, é substancialmente
inferior.

Por que razão isso acontece?
Uma das razões que poderão justificar que
o turista não pernoite mais tempo é o facto
de não lhe contarmos uma narrativa, uma
história. Olhemos para Santiago de Com-
postela: as pessoas ficam vários dias a fa-
zer o caminho e a conhecer a rota. Ou as
Aldeias do Xisto, ou a Estrada Nacional 2.

Temos de contar uma narrativa. Isso im-
plica que tenhamos uma visão – e essa se-
guramente existe – e uma sinergia entre os
vários territórios, e concelhos, seja através
da comunidade intermunicipal, das CCDR,
também numa boa relação transfronteiri-
ça, porque o Interior está longe do Litoral
mas muito próximo de Espanha. Estou a
falar de sinergias com o Governo mas tam-
bém com as infraestruturas, como a ferro-
via no Douro. Temos de ter a certeza de que
temos infraestruturas de saúde, ter atenção
ao próprio ambiente – garantir que temos
as condições para poder desenvolver em-
preendimentos turísticos que cumpram as
melhores práticas a nível ambiental – efi-
ciência, gestão hídrica... É um esforço muito
grande pelo qual o Litoral já passou e de que
o interior precisa agora.

Parece-me muito otimista. Há um terreno
fértil para trabalhar?
O mais difícil está cá [risos]. O bom tempo,
os nossos ativos, a comida...

Então o que nos falta para o passo seguinte?
Acho que é uma questão para a qual a pan-
demia nos veio alertar. Veio ajudar-nos a
identificar o que está a faltar, que acho que
é trabalharmos melhor em equipa. Eu fa-
lei das sinergias, da consciência coletiva. A
pandemia trouxe-nos muita coisa má, mas
aguçou-nos sentimentos como a solidarie-
dade, maior preocupação com o outro, al-
guma propensão para usufruir de pequenas
experiências para as quais não estaríamos
tão despertos. Esta preocupação de traba-
lhar mais em equipa e não tanto em guerri-
lha. É um diálogo que tem de ser muito bem
trabalhado entre territórios mas também
com os colegas de Governo, tentando sen-
sibilizar para a necessidade de Portugal ser
uma nação una e coerente para que possa
ser trabalhada como um conjunto, incluin-
do naturalmente as ilhas. Volto a dizer: o tu-
rismo é de pessoas para pessoas. Neste caso,
estamos a falar das autarquias, das várias
entidades que trabalham nas várias tutelas.
Acho que é essa a mensagem: trabalhar mais
em equipa, como a Seleção Nacional [risos].

Garantimos a Liga dos Campeões, uma
etapa do Grande Prémio de Fórmula 1, do
Moto GP... São eventos para manter?
Sabe que para um casamento são neces-

Temos de


pensar não


só na natureza


do vínculo


de trabalho dos


profissionais


do setor, que


estão muito


dependentes


desta


sazonalidade,


mas no perfil


funcional”

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