Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 67

Tenho de ter. Mesmo que seja fora das cha-
madas horas úteis. Tenho de pensar e faço
sempre esse trabalho. E não estou a exage-
rar: faço mesmo. Tenho mesmo de pensar
estrategicamente: de que é que os empre-
sários precisam? E os trabalhadores? O que
estamos a lançar em setembro ou outubro?
Porque há agentes económicos que pedem
atenção e nos recordam de coisas, mas ou-
tros não. E eu tenho de ter isso presente.


E o outro terço do dia?
Bom, aí acho que temos de cuidar dos nos-
sos e é o que tento fazer. Nutrir, mimar, pen-
sar que é importante estar.


Consegue fazer as refeições com os seus
filhos?
Não, isso não consigo. Tenho três filhos, a
mais pequenina tem 5 anos, e não consigo
mesmo.


Como se gere essa questão?
Com uma ótima família por trás, segura-
mente. Com um marido com quem fiz um
pacto – “a minha vida é assim durante os
próximos meses, ou anos, e, portanto, te-
mos de estar aqui uns para os outros”. E é
uma conversa que tive não só com o meu
marido mas também com os miúdos, para
perceberem o que a mãe faz. O meu filho
mais novo diz que a mãe é secretária. Mas
não diz mais nada a seguir. “A mãe é secre-
tária” [risos]. Mas, em boa verdade, eu es-
tou sempre disponível, como as secretárias.

Eles entendem o seu trabalho?
O mais velho, que tem 11 anos, já perce-
be. Os outros são mais pequeninos e ainda
não. Mas, enfim, foi um desafio que surgiu,
que eu aceitei, e no qual agora tento dar o
meu melhor todos os dias.

Licenciou-se em Engenharia Eletrotécni-
ca. Alguma vez pensou um dia ser secre-
tária de Estado do Turismo?
Não estava na minha lista de intenções nem
na minha lista de ambições, de todo.

Porque escolheu esse curso?
Sempre gostei imenso de informática e de
eletrotecnia, sempre fui uma pessoa mui-
to prática, pragmática, com uma compo-
nente analítica muito forte, sabia clara-
mente que queria ir para as engenharias.
Acho que ainda hoje isso se evidencia na
minha personalidade: quando tenho um
problema gosto de o dividir em vários. Um
engenheiro faz isso, pega num proble-
ma e divide-o em vários, não é? Ou seja,
nada é impossível... Mas a minha área foi
sempre Informática, e depois segui Enge-
nharia Eletrotécnica e de Computadores
porque a eletrotecnia, o fazer acontecer,
fazia-me sentido, tal como a informática.
Sinto-me totalmente bem resolvida com
o meu curso.

Nem era um curso muito óbvio, no final
dos anos 1990.
Não. Éramos pouquinhas mulheres. Fomos
dez mulheres a acabar o curso, em 1998.

Depois entrou no mundo empresarial, ti-
rou alguns cursos de Gestão... foi aconte-
cendo?
Sim, foi sempre um percurso muito natu-
ral. As coisas foram acontecendo. Sempre

gostei muito da componente técnica e de-
pois comecei a ter alguns convites para en-
trar na área da gestão. E como tinha a parte
técnica muito bem resolvida, a gestão apa-
receu quase como uma evolução natural.
Foi um percurso nada tortuoso. E quando
fiz o meu MBA, percebi que fazia sentido. E
que há muitos gestores que são engenhei-
ros, e comecei a pensar que se calhar seria
o meu caso.

Tem tempo para ter hobbies?
Tenho, tenho! Gosto de estar com os meus
filhos, naturalmente, e fazer parvoíces e
isso faz parte [risos]. É bom tirar o nosso
peso e ser criança por uns momentos. Não
consigo desligar totalmente, mas esforço-
-me para o fazer. Mesmo nas férias preciso
de uma ou duas horas por dia para organi-
zar as minhas coisas, porque sou mesmo
muito metódica. Não facilito, mesmo. E isso
dá-me paz. Quando trabalhamos em equi-
pa não podemos ser a pedra na engrena-
gem. Não gosto que digam que a Rita não
despachou aquilo, porque isso tem uma
implicação no trabalho de toda a gente.

Sente isso como um peso?
Não, de todo. Fico relaxada se tiver tudo
tratado. É da minha personalidade.

Voltando aos hobbies...
Além de estar com os miúdos, sou minia-
turista. Há pouca gente que sabe disto, mas
gosto muito de miniaturas, de fazer acon-
tecer. Sobretudo porque tenho excelentes
recordações da minha infância. E depois
gosto naturalmente de teatro, de espetá-
culos, de praias, de estar com os amigos...
Gosto de ir celebrando consoante as possi-
bilidades agora – 10 ou 20 pessoas, confor-
me esteja em Lisboa ou no Porto [risos] –,
e de receber pessoas em casa. É mais fácil
nutrir a família do que os amigos (às vezes
não conseguimos atender os telefonemas)
porque aos últimos temos de chamar. Mas
temos de o fazer.

A sua vida mudou muito quando assumiu
a Secretaria de Estado?
Não. A minha vida já era muito tensa e ti-
nha a sorte, como aqui, de ter uma exce-
lente equipa. Voltamos ao mesmo: as pes-
soas certas são importantes. As que nos dão
ânimo e carinho e que nos criticam e nos
fazem crescer, também, naturalmente. E
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