Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1

Macro



  1. EXAME. SETEMBRO 2020


Q


uando pensamos em
enoturismo, é difícil
que as imagens que
nos passam diante
dos olhos não fujam
imediatamente para as belíssimas paisa-
gens da Toscana ou da Borgonha. Em Por-
tugal, o Douro vinhateiro é cartão-postal,
tal como as adegas que foram surgindo nos
últimos anos, tantas projetadas por arqui-
tetos de renome. Então, o que distingue as
regiões nacionais das primeiras? A organi-
zação. “O setor do vinho é muito organi-
zado e, com o crescimento da produção e
da qualidade do produto, foram-se abrin-
do portas e surgiu o enoturismo em Por-
tugal. Em 2014, o Turismo de Portugal fez
um estudo sobre a oferta e a procura do
enoturismo no País”, começa por explicar
à EXAME Maria João Almeida, presidente
da recém-criada Associação Portuguesa de
Enoturismo (APENO). Mas nada foi con-
sequente. Se hoje se quiser saber quantas
pessoas nos visitam e procuram este tipo
de atividades, quanto é o que o setor re-
presenta para a economia ou quem são os
operadores, ninguém sabe dizer com cer-
teza. “Sentia a necessidade de números que
não tinha. Não há um código de atividade
económica (CAE), não havia linhas de fi-
nanciamento para o enoturismo, nenhuma
forma de ajudar os produtores”, esclarece a
antiga jornalista, hoje consultora, membro
do júri de concursos de vinho e gastrono-
mia nacionais e internacionais, autora de
guias e documentários, além de formado-


ra de cursos de vinhos e empreendedora.
O projeto começou a tornar-se mais
concreto na sua cabeça em 2019, embora
a ideia tenha surgido há cerca de quatro
anos. Só que, em 2019, quando foi con-
vidada para escrever um capítulo de um
livro internacional em que deveria apre-
sentar o setor do enoturismo, deparou
com uma série de lacunas nos elementos
que poderia utilizar. “Havia dados e nú-
meros sobre turismo e sobre vinho, mas
nada que juntasse os dois”, lamenta. Daí
até juntar um grupo de profissionais das
mais diversas áreas (financeira, novas tec-
nologias, jurídica, comunicação e marke-
ting, recursos humanos) passaram poucos
meses. Hoje, são nove os profissionais que

integram os corpos sociais da APENO, ofi-
cializada em fevereiro deste ano mas apre-
sentada formalmente apenas em junho,
devido ao período de suspensão tempo-
rária que o mundo atravessou por causa
da Covid-19. “Tentei ir buscar as pessoas
certas para trabalhar o projeto. Profissio-
nais em quem confio, com quem me fui
cruzando ao longo da vida”, nota. Pessoas
que se mostraram disponíveis para ofe-
recer o seu tempo e know-how em prol
da causa.

SEM NÚMEROS
“Acreditamos que o setor do enoturismo
tenha cerca de 60 mil agentes económicos
e que represente 100 mil postos de traba-

ENOTURISMO

Vinhos


em rota


A Associação Portuguesa


de Enoturismo nasceu no
início deste ano e estima


que o setor gera um volume
de negócios na ordem


dos 400 milhões de euros
anuais – pelo menos


Texto Margarida Vaqueiro Lopes
Fotos Diana Tinoco

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