Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 95

atividade, contra 45,8% em
que a suspensão foi parcial.
Por outro lado, 95,3% indica-
ram uma quebra do volume de
negócios e 92,5% uma quebra
da procura. A par disso, 62,7%
das empresas revelaram desis-
tências dos clientes de negó-
cios que estavam em curso,
19,8% dos quais chegaram
mesmo a desistir da compra
após celebração do contrato-
-promessa de compra e ven-
da. Nesta altura, metade das
empresas inquiridas (no to-
tal de quatro mil empresas de
media ção licenciadas a operar
em Portugal) afirmou ter re-
corrido a algumas das medi-
das de apoio excecionais pre-
vistas pelo Estado.
Os dados são relativos a abril,
mas reveladores da retração
da atividade, apesar de 59%
dos profissionais acreditarem
que os preços do imobiliário
se irão manter nos próximos
meses, de acordo com um in-
quérito realizado em julho
pelo Imovirtual.


PANDEMIA: AMEAÇA
OU OPORTUNIDADE
O surto pandémico, bem
como a instituição do estado
de emergência decretado em
março, veio impossibilitar, por
exemplo, as visitas presenciais
a imóveis, a realização de es-
crituras ou mesmo a continui-
dade dos projetos de cons-
trução. Mas como em tantos
outros segmentos económi-
cos, também neste as empre-
sas tiveram de se reinventar. A
tecnologia foi um aliado ful-
cral neste processo, já que fo-
ram muitas as empresas ditas
tradicionais a enveredarem
pelo digital para promover os
seus imóveis, as vendas e agi-
lizar os processos de trabalho.
Sem esquecer o sistema de te-


letrabalho a que muitas tam-
bém aderiram.
Assim, implementaram-se no-
vas formas de comunicação e
de chegar aos clientes, com
recurso aos meios digitais, fi-
zeram-se visitas online per-
sonalizadas aos imóveis, reu-
niões através de plataformas,
num esforço para manter a
proximidade com os clien-
tes e assegurar os negócios.
Exemplos não faltam, como o
caso da Engel & Völkers, que
através de uma parceria com
a Matterport, a plataforma de
dados 3D, teve a possibilida-
de de apresentar as suas pro-
priedades aos clientes através
de visitas virtuais em 3D. Esta
tecnologia é capaz de produzir
réplicas exatas de proprieda-
des, o que permite que os po-
tenciais compradores tenham
acesso a visitas virtuais com-
pletas a qualquer hora do dia.

PROCURA DE IMÓVEIS COM
NOVOS PADRÕES
Depois de meses confinados
em casa em teletrabalho, os
portugueses começaram a
olhar para as suas casas com

CBRE REVELA CENÁRIOS NO SETOR IMOBILIÁRIO
Perante as inúmeras incógnitas que a crise está a levantar são muitas as questões que se colocam
quanto ao futuro: Como serão os locais de trabalho em 2030, os investimentos, a vida? O Global Outlook
2030, um estudo desenvolvido pela CBRE (consultora especializada em soluções imobiliárias) revela
alguns cenários, assim como sobre um conjunto que aspetos que vão mudar na vida das pessoas,
nos locais de trabalho ou nos investimentos. O relatório da CBRE prevê, por exemplo, que, até 2030,
90% dos ativos imobiliários comerciais serão avaliados usando AVMs, e que a big data e a Inteligência
Artificial irão ajudar a criar novas métricas que permitem ver o valor da propriedade numa nova
perspetiva. Por outro lado, evidencia também que o mundo do trabalho e os locais de trabalho como
os conhecemos hoje vão ser diferentes nos próximos anos. Os primeiros passos já começaram a ser
dados com as pessoas a trabalharem a partir de qualquer lugar. A disrupção da tecnologia acontecerá
em toda a linha na próxima década. As formas de inteligência artificial para medir o valor tornarão mais
fácil investir com sucesso em imóveis. Paralelamente, o Global Outlook mostra também que até 2030,
a Ásia atingirá os 4,75 mil milhões de pessoas e uma economia em expansão que criará oportunidades
sem precedentes. Perante esta previsão, esta área geográfica deverá registar uma taxa de urbanização
rápida e elevada uma vez que segundo o CBRE Research e a United Nations haverá 414 milhões de
pessoas a migrarem para cidades até 2030.

outros olhos. No novo cenário,
a habitação passou a também
a ser para muitos o escritório,
a escolas dos filhos, o ginásio...
Em suma, assumiu o papel
central de quem esteve meses
confinado. Uma alteração que
também se prevê extensível ao
sector empresarial. Segundo
um estudo desenvolvido pela
MGVM a nível europeu, as no-
vas políticas de teletrabalho
implementadas pelas empre-
sas irão gerar menos procura
por espaços para escritórios
ou uma procura por escritó-
rios mais pequenos, uma vez
que os trabalhadores estão em
home office.

TURISMO DESACELERA,
IMOBILIÁRIO SOFRE
Se há cerca de um ano o pre-
sidente da APEMIP afirmava
[numa entrevista à EXAME]
que o turismo e o imobiliá-
rio eram o petróleo e o ouro
do nosso país, em 2020 estes
dois sectores económicos, o
primeiro forte dinamizador
do segundo, vivem um perío-
do de forte desaceleração. A
quebra do turismo é uma rea-

lidade com impacto no sec-
tor imobiliário: menos turis-
tas, menos procura por casas,
menos investimento, menos
vendas e também menos cons-
trução. Um ciclo que se refle-
te no desinvestimento estran-
geiro no país. A recuperação
gradual do turismo, caso as
condições sanitárias do país o
permitam e a confiança para
viajar seja recuperada, pode
alavancar o regresso dos inves-
tidores internacionais ao mer-
cado imobiliário nacional. Re-
corde-se que em 2018 os dados
do INE apontavam para que os
não residentes representavam
13% do volume total de tran-
sações, o equivalente a 3,4 mil
milhões de euros, num mer-
cado total de 26,1 mil milhões
de euros.
Quantos aos estrangeiros
que mais compram, os fran-
ceses e os ingleses estão no
topo da lista e representam
19,7% e 16.9%, respetiva-
mente, do total de transa-
ções de não residentes. Se-
guem-se o Brasil, com 8,3%,
a China, com 5,1%, e a Ale-
manha, com 4,9%.
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