Exame - Portugal - Edição 437 (2020-09)

(Antfer) #1
SETEMBRO 2020. EXAME. 97

Luís Lima, presidente da APEMIP - Associação dos Profissionais
e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal

"SERÁ
NECESSÁRIO
QUE OS AGENTES
DO SECTOR
ESTEJAM
PREPARADOS
PAR A A S
MUDANÇAS DE
PAR AD I G MA
DO NEGÓCIO
IMOBILIÁRIO"

epois de, em 2019,
se registar uma
taxa de crescimen-
to de 2% no núme-
ro de transações de alojamen-
tos familiares, a expectativa
para 2020 seria a de manuten-
ção deste comportamento.
Mas o imobiliário sofreu na
pele os danos do vírus. De
acordo com os dados referen-
tes ao número de transações
de imóveis habitacionais, no
primeiro trimestre deste ano
venderam-se 43.532 casas,
registando-se uma quebra de
11,6% face ao trimestre ante-
rior e de 0,7% face ao período
homólogo.
Os números não são uma
surpresa e justificam-se pelo
adiamento de investimentos,
quebra da procura impelida
pela ausência de rotas aé reas
e cancelamento de negócios
que estavam previstos, que
deixaram muitas empresas
numa situação deveras com-
plicada, acentuada pelo estado
de emergência que as impediu
de desenvolver a sua atividade
normalmente.
Perante esta realidade, já era ex-
pectável que o número de ven-
das registasse uma quebra, que
deverá ser mais acentuada no
segundo trimestre do ano. Ain-
da assim, o imobiliário vai reve-
lando sinais de alguma firmeza.
Sabemos que esta pandemia
terá um impacto económico
sem precedentes, com con-
sequências que terão reflexos
diretos no panorama laboral,
que influenciará diretamen-
te o desempenho do mercado
imobiliário.


No entanto, estamos crentes de
que este sector será, como o foi
na anterior crise, um dos pri-
meiros a dar mostras de recu-
peração, alavancando outros,
como o do turismo. Para tal
será necessário que os agen-
tes do sector estejam prepara-
dos para as mudanças de para-
digma do negócio imobiliário,
como vimos acontecer num
passado bem recente.
No horizonte, o pior desta
pandemia prende-se com a
incerteza que impede o pla-
neamento, tornando-se par-
ticularmente difícil gizar es-

tratégias de negócio e com
uma eventual tendência de
desvalorização do património
(como assistimos no tempo da
troika), mas que desta vez só se
justificará pelo reajustamento
a alguns preços especulativos
que estariam a ser praticados,
sobretudo nas principais ci-
dades do país, pois se na últi-
ma crise havia um excesso de
oferta que motivava a descida
de preços, desta vez tal não se
verifica, sobretudo nos seg-
mentos médio e médio baixo,
onde continua a haver falta de
casas à medida das necessida-

des e possibilidades dos jovens
e das famílias.
A nova realidade continua-
rá assente na captação de in-
vestimento estrangeiro, que
deverá ser estimulada pela
manutenção dos programas
de captação de investimen-
to como o Regime Fiscal para
Residentes Não Habituais e o
Programa de Autorização de
Residência para Atividades de
Investimento, e pelo merca-
do de arrendamento urbano,
quer numa perspetiva de ne-
gócio, quer numa perspetiva
de investimento.
Para as imobiliárias, este será
igualmente o momento cha-
ve para demonstrarem o valor
do seu papel no panorama do
sector, apostando na qualifi-
cação dos seus profissionais e
demonstrando que esta classe
está hoje muito melhor prepa-
rada para lidar com as dinâ-
micas do mercado do que em
crises anteriores, tornando-se
uma vez mais uma força motriz
da economia nacional.

O IMOBILIÁRIO COMO ALAVANCA


D


A situação pandémica que assolou o mundo neste ano de 2020 criou um cenário absolutamente inédito,


repleto de incertezas sobre o futuro

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