O Jogo - 20200907

(PepeLegal) #1

BENFICABENFICA


A 15 de outubro de 2019, Darwin estreou-se
pela seleção principal do Uruguai. E logo com
um golo. Lançado aos 75’, marcou aos 80’ e
evitou a derrota (1-1) com o Peru, no jogo 200
de Oscar Tábarez como selecionador. Antes,
assumiu a “ansiedade e nervosismo” por
estar “ao lado de monstros”, algo com que
havia “sonhado” em criança. E a família
sempre a par e passo de todas as emoções.


SELEÇÃO ESTREIA A MARCAR COM


MUITA ANSIEDADE À MISTURA


Agora já noutra situação, Darwin não
esquece que, quando a família já estava em
Montevideu, a apoiá-lo, chegou a perder a
casa fruto das cheias no rio Quaraí. Tudo
recuperado, é ainda a base da família, mas
durante a pandemia o avançado fez questão
de ajudar. Ofereceu mil cabazes alimentares
aos mais necessitados, juntando-se à onda
solidária dos internacionais uruguaios.


COVID-19 OFERECEU CABAZES


ALIMENTARES NA PANDEMIA


PASSADO Após a fome na infância, esteve


perto de desistir devido às graves lesões


“Cheguei a ir para a cama com
o estômago vazio, mas a mi-
nha mãe foi deitar-se mais
vezes sem comer para que nós
estivéssemos alimentados.
Não me esqueço disso”, disse
há um ano em entrevista ao
“El Observador”, frisando:
“Quando não tinha o que co-
mer, passava o dia todo na
escola e quando saía ia trei-
nar.”
O novo camisola 9 da Luz,
que não escondeu as lágri-
mas na visita à Luz, a apre-
sentação, tentou a aventura
no Peñarol aos 14 anos, em


  1. Alto e magro, conven-
    ceu o olheiro do Peñarol, José
    Perdomo, pela forma como
    driblava os adversários quan-
    do este foi observá-lo a Arti-
    gas, mas apesar da recomen-
    dação só à segunda, no ano
    seguinte, passou nos testes no
    clube e ficou de vez.
    O futebol estava no sangue.
    O irmão mais velho, Júnior,
    já tinha sido “agarrado” pelo
    Peñarol. Silvia Ribeiro, mãe
    de Darwin, não queria ver
    mais um filho a 600 quiló-
    metros de casa. Darwin foi,
    mas Júnior voltaria. O irmão,
    médio, com tanto potencial
    como o reforço encarnado,
    não resistiu à distância e de-
    sistiu: tornou-se polícia.
    Darwin, desde cedo, desta-
    cou-se pelo seu físico. De tal
    forma que essa estampa lhe
    permitia impor o respeito aos
    adversários e... aos colegas.
    Apesar da timidez nos primei-
    ros tempos no clube de Mon-
    tevideu, foi-se adaptando e
    integrando. Jovem, apesar de
    o Peñarol não ter registos de
    indisciplina, ainda pregava
    algumas partidas ou até men-


tiras, aproveitando por vezes
para se escapar à escola.
Avançado desde sempre –
teve uma breve “aventura”
como médio –, Darwin sen-
tiu, porém, problemas para
conviver com as críticas quan-
do a seca de golos foi maior.
Superado já mais de ano e meio
de paragem por operações
num joelho para debelar lesões
nos ligamentos cruzados e na
rótula, esta no regresso após
recuperação da primeira
lesão – o irmão impe-
diu-o de desistir do
futebol –, o ponta
de lança travou na
falta de pontaria.
Acusava o peso
das críticas nas
redes sociais e re-
fugiava-se no
quarto – o
pai, Bi-
biano
Núñez,
defen-
dia-o e
chega-
va a
ameaçar os
críticos. Tudo
mudou com ajuda
do psicólogo dos sub-20 do
Uruguai. Voltaram os golos e o
salto para Espanha não demo-
rou. Agora terá de saber convi-
ver com outra realidade e o
facto de ser o reforço mais caro
das águias, que diz não o inco-
modar. “É um orgulho para
mim, não é um peso, é uma
responsabilidade”, frisou na
apresentação, ele que já assu-
miu no passado ter “Cavani
como referência” enquanto
jogador ou Cebolla Rodríguez,
ex-Benfica e ex-FC Porto, e
agora figura no Peñarol.

MARCO GONÇALVES
bbb Darwin Núñez é o exem-
plo perfeito do contraste que a
vida de futebolista pode pro-
porcionar. Depois das dificul-
dades na infância, é agora a
contratação mais cara de sem-
pre em Portugal, fruto dos 24
milhões investidos pelo Ben-
fica. Para trás ficaram os dias
em que o pai trabalhava na
construção civil e a mãe, go-
vernanta, ainda saía depois
do trabalho à rua para reco-
lher garrafas de vidro e ga-
nhar assim um dinheiro ex-
tra. Tudo para lutar contra a
fome. Muito ligado à família
e às origens, Darwin teve de
lutar contra as saudades da
sua terra natal, Artigas, a nor-
te do país, junto à fronteira
com o Brasil, mas também
contra lesões graves, que qua-
se o fizeram abandonar o so-
nho de se tornar futebolista e
voltar à “base”.
Depois de apenas 24 jogos
pelo Peñarol, e quatro golos,
Darwin teve a oportunidade
de dar o salto para a Europa em
2019 e tudo fez para consegui-
lo. O objetivo era claro: recom-
pensar a família pelo esforço.
Por isso, comprou uma casa
nova aos pais com o prémio da
transferência para o Almería.
“Estou-lhes agradecido, sem-
pre lutaram para dar-me coi-
sas. Agora vou poder ajudar a
minha família”, explicou.

Superou operações aos
ligamentos cruzados e à
rótula de um joelho, que o
levaram a pensar em voltar
às origens, mas sofreu com
as críticas pela falta de
golos. Agora é o jogador
mais caro em Portugal

DARWIN


É EXEMPLO


DE LUTA


I LIGA


TANIA PAULO/ sl benfica

TENTADO
PELO BENFICA,
CAVANI É UMA
“REFERÊNCIA” PARA
DARWIN. TAMBÉM O
EX-BENFICA E EX-FC
PORTO CEBOLLA
RODRÍGUEZ O
MARCOU

Segunda-feira, 7 setembro 2020
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