Revista de Vinhos - Edição 370 (2020-10)

(Antfer) #1

Tendo por pretexto a 25ª edição do Adega de Borba Reserva tinto,
o desafio desta vertical foi o de provarmos duas colheitas por década
que ajudassem a ilustrar a notável capacidade de envelhecimento do
vinho, dos mais reconhecidos e populares do país. Habituámo-nos a
identificá-lo simplesmente por Rótulo de Cortiça, na medida em que a
rotulagem recorre, precisamente, a uma lâmina muito fina de cortiça.
A primeira edição do Rótulo de Cortiça é a de 1964. Até meados da
década de 80, as castas maioritariamente usadas para corporizarem
o lote foram Castelão, Trincadeira, Alicante Bouschet, Grand Noir,
Moreto e Aragonez. A reestruturação generalizada de vinhas nos anos
80 motivou o arranque de parte do encepamento mais antigo, o que
deu lugar a vinhas novas, mais rentáveis. Variedades como o Moreto
perderam representatividade e outras, como o Aragonez (Tinta Roriz),
reforçaram-se.
O novo figurino no xadrez das vinhas acabaria por ter reflexos ine-
vitáveis no perfil do vinho. De um fruto mais delicado e uma perceção
vegetal mais evidente, de teores alcoólicos de 12 a 12,5%, passamos para
um quadro de fruta primária em primeiro plano e teor alcoólico supe-
rior. Claro, os ditames de mercados e modas também tiveram contri-
buto, sobretudo na década de 90 e primeiros anos de 2000.
O ADN do Rótulo de Cortiça deve-se também muito ao terroir. O
planalto de Borba eleva-se a mais de 400 metros de altitude, o que
aporta frescura natural mas também permite maturação final das uvas.
Ao longo do ano a pluviosidade fica acima da generalidade do Alentejo e
as noites são geralmente frescas. O solo é rico em mármores e calcários.
“Estrutura, equilíbrio e elegância”. É assim que Óscar Gato, o enó-
logo da Adega de Borba, define o Rótulo de Cortiça.


Um contexto bem definido

A Adega de Borba é a primeira cooperativa alentejana, com assem-
bleia geral em 24 de abril e estatutos definidos em junho desse mesmo
ano, 1955. Vai ainda no quarto presidente, pelo que é fácil depreen-
der-se que a estabilidade tem sido um dos alicerces destes 65 anos.
Os 270 associados representam 2.200 hectares de vinhas, cerca de
metade de toda a produção da sub-região de Borba. Se restringirmos a
geografia à escala concelhia, 80% da produção de uva.
Em média anual, a Adega de Borba engarrafa 13,5 milhões de exem-
plares, muitos dos quais destinados a 30 mercados de exportação:
Rússia, França, Alemanha, Brasil e EUA, os principais. Portugal absorve
a maioria, 75%.
A segunda maior adega do Alentejo conheceu 17,2 milhões de euros
em volume de negócios em 2019 e empunha a bandeira do endivida-
mento zero. Os investimentos de monta mais recentes aumentaram as
capacidades de vinificação e de estágio, sendo a nave de 1.200 barricas
(75% carvalho francês) e 32 tonéis das mais impressionantes.
Onde tudo começa, na vinha, a matéria-prima é oriunda de plantas
que nascem entre os 300 e os 480 metros. O rendimento médio é de
7.000kg/ha.
Inspirado no Adega de Borba Reserva tinto, a cooperativa lançou
mais recentemente duas outras versões complementares: o Reserva
branco (2011, 2015 e 2017) e o Grande Reserva tinto (2007, 2009,
2011, 2013 e 2014, sempre um bi-varietal de Trincadeira e Alicante
Bouschet).

ADEGA COOPERATIVA DE BORBA
Largo Gago Coutinho e Sacadura Cabral, 25 / Apartado 20
7151-913 Borba / T. 268 891 660

O ADN do Rótulo de


Cortiça deve-se também


muito ao terroir. O planalto


de Borba eleva-se a mais de


400 metros de altitude, o


que aporta frescura natural


mas também permite


maturação final das uvas.


ADEGA DE BORBA RESERVA

108 · Revista de Vinhos ⁄ 370 · setembro 2020 @revistadevinhos

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