Revista de Vinhos - Edição 370 (2020-10)

NOVIDADES

texto e notas de prova Célia Lourenço / fotos Fabrice Demoulin

Para ver e ouvir

“Vamos para fora cá dentro... do restaurante”, foi o desafio que

abriu a “Viagem com Vinhos” de Paulo Laureano. Paulo Laureano

é produtor e enólogo, uma das caras do vinho português que todos

associam ao Alentejo e à Vidigueira e que agora nos mostra os

vinhos que faz fora da região. Esses vinhos resultam de parcerias

com amigos, em locais que considera especiais e que nos levam pelo

território português. Diversidade poderia também ser o mote desta

prova, já que são vinhos que começam no Minho, viajam para o sul e

se estendem às ilhas atlânticas. Também autenticidade, porque cada

um deles reflete a procura de uma verdade histórica e cultural.

Esta “viagem” aconteceu no restaurante Impecável, em frente ao

Palácio Nacional de Queluz. E porque estamos em Queluz? Pela

relação de amizade que Paulo tem com o dono do restaurante, David

Costa, que resulta agora numa parceria para a primeira loja da Paulo

Laureano Vinus. A concretização do projeto foi atrasada uns meses

pela pandemia de Covid-19 que atravessamos, mas o enólogo achou

que havia chegado o momento e não quis protelar mais, num “misto

de loucura e esperança”, diz-nos. Existem já planos para replicar o

modelo, mas espera ver como corre esta primeira experiência. O

Impecável pratica uma cozinha “mediterrânica, com muitos petiscos,

para as pessoas se sentirem tentadas a provar vinhos diferentes”. O

projeto pretende fazer com que o vinho chegue mais próximo das

pessoas e, para isso, a loja está intimamente relacionada com o res-

taurante. É possível comprar todas as referências da Paulo Laureano

Vinus, com a possibilidade de receber as compras em casa. No res-

taurante, os menus são adequados às épocas do ano e à sazonali-

dade, estendendo-se esse princípio aos vinhos que vão integrando

as escolhas. Para o nosso anfitrião, a relação do vinho com a comida

é tão forte e a gastronomia portuguesa é uma questão cultural tão

importante, que lhe parece natural querer explorar essa relação.

Os planos passam, também, por convidados regulares, quer para a

partilha de vinhos de amigos com filosofias semelhantes, quer para

a cozinha.

Paisagens

As “Viagens com Vinhos” mostram diferentes paisagens, umas de

recorte fotográfico e realista, outras metafóricas, algumas quase oní-

ricas. Nas palavras de Paulo Laureano, “o vinho, para além de um veí-

culo de prazer, é um modo de viajarmos e conhecermos novos locais,

novas castas, novos desafios, terroirs de excelência, pessoas e tradi-

ções”. E acrescenta, “mantendo a Vidigueira como o core business

da Paulo Laureano Vinus, desenhar vinhos noutros locais de eleição,

marcados por uma identidade diferenciadora e uma boa história, tem

sido sempre um excelente motivo de viagem”.

Esta viagem começou nos Vinhos Verdes e terminou numa relação

de muitos séculos que envolve Portugal e o mar do norte, com a

Noruega como ponto de fuga, enquanto na mesa, tudo passou pela

generosa culinária alentejana. Os três primeiros vinhos mostraram

grandes origens de brancos, com identidade forte e história a merecer

atenção. O primeiro foi o Casa das Infantas by Paulo Laureano

Escolha 2018, numa produção de 6.000 garrafas, feito a partir da

casta Loureiro de uma vinha às portas de Guimarães. O dono da

quinta, Diogo Villas Boas, produz vinho (Earthrespect) e tem no seu

amigo Paulo Laureano o enólogo da casa.

Depois fomos até à ilha do Pico, onde o enólogo faz consultoria

para a Curral Atlantis, da família Faria, há mais de 20 anos. Em 2018,

respondendo ao desafio de Manuel Faria, Paulo Laureano “desenha

Viagem

com vinhos

Paulo Laureano

128 · Revista de Vinhos ⁄ 370 · setembro 2020 @revistadevinhos