Revista de Vinhos - Edição 370 (2020-10)

(Antfer) #1
NOVIDADES

texto e notas de prova José João Santos / fotos D.R.

Camaleão celebra


10 anos e não


está só


João Cabral de Almeida


Os vinhos Camaleão estão, em 2020, a celebrar 10 anos. A mais recente edição
do Loureiro e Alvarinho, de 2019, mostra um dueto de castas que fermentou em
conjunto existindo, previamente, alguma maceração do Loureiro. O vinho, que
privilegia a austeridade em detrimento de exuberantes expressões aromáticas, é
obtido a partir de diferentes parcelas de vinhas de pequenos viticultores da região
dos Vinhos Verdes.
João Cabral de Almeida tem no Camaleão a base que sustenta o negócio
enquanto produtor individual. Das cerca de 80.000 garrafas que anualmente ela-
bora em Portugal, a esmagadora maioria é de Camaleão, marca que tem conquis-
tado o respeito e admiração de mercados como os EUA.
No Dão, João dá primazia a dois terroirs: Silgueiros e a Serra da Estrela. O
Musgo tinto 2015 é de uvas maioritariamente de Silgueiros e Oliveira de Barreiros,
marcado pela Touriga Nacional mas também com sal e pimenta de outras varie-
dades. Estagiou dois anos em barricas usadas e o perfil fresco lembra um reen-
contro com um certo Dão, mais fino. O Musgo branco 2018 combina Encruzado,
Barcelo e Malvasia, entre outras castas, sendo que perto de 15% do Encruzado
estagiou em barrica mas acabou por não integrar o lote final do Liquen – o branco
topo de gama que João prepara no Dão.
Numa das sessões da “Prova em Simultâneo” que a Revista de Vinhos tem pro-
movido online foi ainda apresentado o Omnia Touriga Nacional 2017, um Douro
que resulta de uma parcela de baixa altitude (150m) próxima do rio, mas que
demonstra uma finura que lembra a Touriga do Dão.
A par dos vinhos próprios, João Cabral de Almeida, com passado familiar ligado
ao vinho, é ainda o enólogo da Casa da Calçada (Amarante, Vinhos Verdes) e
Quinta da Veiga (Sabrosa, Douro).

17,5
Omnia Touriga Nacional
2017
Douro / Tinto / João Cabral de
Almeida
Rubi. Nariz de violeta, framboesa,
cereja vermelha, chocolate negro
e leve especiaria. Tanino redondo,
fresco e levemente vegetal,
estrutura fluida, volume no ponto.
O final comprova a interpretação
contemporânea e fina da casta
rainha, de um ano quente mas que
resultou num vinho fresco e muito
elegante, com perspetivas de
evolução.
Consumo: 2020-2025
26,00 € / 16ºC

17,5
Musgo 2015
Dão / Tinto / João Cabral de
Almeida
Rubi. Ligeiro floral e fruto de
bosque: amora, mirtilo, cereja
escura. Balsâmico elegante,
azeitona, leve especiaria e resina
de pinheiro. Tanino fino, suave mas
com textura, estrutura fresca e
levemente vegetal. Finaliza seco,
com um toque bom de tabaco.
Um reencontro feliz com a finura
do Dão.
Consumo: 2020-2028
11,00 € / 16ºC

17
Musgo 2018
Dão / Branco / João Cabral de
Almeida
Amarelo limão. Austero, mostra
limão, maçã, folha seca, sensação
de chão frio e molhado. Levemente
especiado, apresenta bom trabalho
com as borras. Tem dimensão
generosa, silhueta firme e elegante,
final prolongado, granítico e
salgado. Será valor seguro na
garrafeira.
Consumo: 2020-2028
11,00 € / 11ºC

17
Camaleão Loureiro
e Alvarinho 2019
Vinho Verde / Branco / João
Cabral de Almeida
Verde limão. Notas de limão,
raspa de lima, maçã verde e líchia.
O registo é elegante, como o
comprova a matriz granítica. Tem
frescura, acidez vincada, bom
volume e final profundamente
pedregoso, de índole mineral.
Uma tradução muito séria e
contemporânea do potencial de
duas grandes castas.
Consumo: 2020-2024
7,20 € / 11ºC

132 · Revista de Vinhos ⁄ 370 · setembro 2020 @revistadevinhos

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