Revista de Vinhos - Edição 370 (2020-10)

(Antfer) #1
CERVEJAS

Do Minho, com amor


texto Luís Alves / notas de prova Luís Alves e Marc Barros / fotos Jorge Matos

A Letra começou com dois amigos que fizeram as primeiras cervejas
artesanais na garagem de casa dos pais. Dali alugaram um pequeno
armazém e hoje têm uma fábrica de onde produzem para todo o país.
Esta seria a mais comum das histórias dos cervejeiros artesanais.
Mas a Letra pouco tem a ver com este padrão. Onde se lê “garagem
de casa dos pais” deve ler-se “corredores da Universidade do Minho”.
Estávamos em 2010 quando Francisco Pereira e Filipe Macieira, inves-
tigadores em Engenharia Biológica, viram nas cervejas artesanais –
ainda embrionárias em Portugal, nessa altura – uma oportunidade de
negócio. “Conhecemo-nos na faculdade, somos da mesma área e cons-
truímos uma relação de amizade. Que ajudou em tudo isto”, começa
por contar Francisco, um dos fundadores, no “brew pub” da Letra,
em Vila Verde. Depois, em 2010, Francisco e Filipe fizeram um teste
da empresa e foram simultaneamente desenhando e experimentando
receitas. Um ano depois, o negócio estava desenvolvido e em 2013
chegou finalmente ao mercado. Antes disso, ainda na universidade, a
Letra teve como cobaias todos os colegas de investigação de ambos os
fundadores. “Organizamos algumas provas sensoriais, com cerca de
60 ou 70 pessoas, que nos deram um feedback imediato. Percebemos,
já na altura, que os consumidores estavam recetivos a novos sabores,
a novas cervejas. O que muito nos animou e deu força para arrancar
o negócio”, recorda Francisco Pereira, que admite pouco experimenta-
lismo no início, apostando em estilos fáceis de beber.

Muitas de Letra

O portefólio da cerveja Letra é extenso e divide-se em quatro linhas:
as Letras, a On Oak, Craft Trials e as colaborações. No caso da pri-
meira, mais conhecida, cada letra do abecedário corresponde a um
estilo diferente. “A lógica da nomenclatura teve que ver com a simplici-
dade no momento do pedido. Em vez de pedir uma stout pede-se uma
Letra C, por exemplo”, explica Filipe Macieira. Para já, o abecedário

da Letra vai do A até à G – esta última recentemente lançada. “É uma
cerveja intensa, preta, uma Imperial Stout, com 10% de teor alcoólico e
um estágio de até dois meses em garrafa”, explica Filipe, acrescentando
que cada cerveja tem no contrarrótulo informação, não apenas da
referência, como sugestões de harmonização com comida. De carnes
de caça a queijo azul, passando por leite-creme, muitas são as hipóteses
que os cervejeiros deixam aos clientes.
Para além da gama fixa, a Letra tem ainda as On Oak, que estagiam
nas 60 barricas usadas que a cervejeira tem na fábrica de Vila Verde,
onde já repousaram noutras vidas vinhos de vários tipos, como Vinho
do Porto. Já as Letra Craft Trials são edições limitadas não apenas de
cerveja mas também, por exemplo, de gin. “Fizemos um destilado da
cerveja Letra F que sofreu uma infusão de lúpulo. Uma produção em
parceria com o Gin Valley, também da região”, apresenta Filipe. Nesta
gama inclui-se também uma cidra 100% maçã com variedades regio-
nais, como a Porta-da-Loja.

Regionalistas, pois claro

Se algo une estes dois cervejeiros é o orgulho minhoto. “Somos
desta região, temos orgulho em sê-lo e o nosso plano, desde o início,
foi imprimir essa marca na cerveja Letra cujo nome completo é “Letra,
Cerveja Artesanal Minhota”, explica Francisco, que orienta toda a
comunicação da marca neste sentido. A fábrica, situada no coração
de Vila Verde, a norte da cidade de Braga, tem uma dupla justificação:
“Recebemos um convite da câmara para aqui nos fixarmos e o muni-
cípio tem sido um parceiro fundamental desde que aqui chegámos;
e uma vez aqui, percebemos, curiosamente, que Vila Verde tem um
passado histórico ligado ao lúpulo. Chegou até a ter uma estação de
recolha e tratamento de lúpulo produzido no Minho”, conta Francisco,
que vê o capítulo ainda em aberto, deixando antever uma aposta neste
domínio.

Nasceu nos laboratórios da Universidade do Minho, em Braga, e rapidamente saltou
para o mercado. É uma das marcas de cerveja artesanal mais conhecidas no país e
tem todo um desenho de negócio bem definido. A Revista de Vinhos visitou a fábrica
em Vila Verde e veio de lá impregnada do orgulho minhoto.

Para ver e ouvir

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