Revista de Vinhos - Edição 370 (2020-10)

(Antfer) #1
produção tinha por base o Verdelho e a Tinta Negra,
seguindo-se Bual, Bastardo e Terrantez. A Malsavia
Cândida perdera terreno, mas continuava a ser
famosa sobretudo na Fajã dos Padres, local inicial-
mente detido pelos Jesuítas.
Os mercados britânico e russo, apesar de todos
os constrangimentos, aumentaram o protagonismo
em matéria de exportações de vinho e com o séc.
XX chegam novas oportunidades de negócio com os
países do Norte da Europa, que sofreram naturais
reveses ao ritmo das duas Grandes Guerras. Neste
nosso século, o Madeira celebra 500 anos de his-
tória e além de Portugal está profundamente enrai-
zado em mercados como a França, Alemanha, Reino
Unido, Bélgica, Suíça, Japão ou Estados Unidos, a dar
os primeiros passos na China.

Nervo e complexidade

Os Madeira nascem em solos de matriz vulcânica,
na maioria basálticos, ricos em ácidos, magnésio e
ferro, pobres em potássio mas com algum fósforo. A
argila é a textura dominante. Câmara de Lobos (costa
sul), São Vicente e Santana (ambos na costa norte
da ilha) são os concelhos que possuem a maioria das
parcelas de vinha, autênticos microfúndios, como
Paula Jardim, atual presidente do IVBAM, as expõe.
Em média, as vinhas da Madeira têm cerca de 0,3
hectares, divididos em mais do que uma parcela.
A esmagadora maioria destes pequenos jardins de
vinha partilha paisagem com a cana-de-açúcar ou
as bananeiras e é entretenimento ou teimosia pes-
soal de viticultores de fim de semana, que têm outro
ofício a tempo inteiro. Estará aí, aliás, dos maiores
desafios da produção de vinho na Madeira, uma vez
que muitos dos viticultores que garantem boa uva
estão hoje envelhecidos.

De clima subtropical, com invernos amenos e
verões quentes e húmidos, a vinha é quase sempre
plantada em altitudes nunca inferiores aos 150
metros. O declive é acentuado, havendo plantas
muitas vezes em terrenos com mais de 25% de
inclinação. Ao longo dos tempos foram sendo cons-
truídos socalcos (os “poios”) e a água necessária foi
sendo transportada pela imensa rede de levadas,
canais de condução de água que se estendem por
2.150 quilómetros, dos quais 40km em túneis.
O sistema de condução de videiras mais usual é a
latada (pérgola), com as plantas a serem conduzidas
horizontalmente sobre arames ou suspensas por
estacas. A altura das latadas varia entre 1 e 2 metros,
com densidades de plantação de 2.500 a 4.000 pés
por hectare. Na segunda metade do séc. XX assis-
tiu-se à introdução do sistema de espaldeira, onde a
vinha é conduzida na vertical, permitindo mais den-
sidade, mas este é normalmente empregue em ter-
renos de declive pouco acentuado.
Os melhores vinhos Madeira expressam caracte-
rísticas que os tornam inconfundíveis, como uma
salinidade evidente e uma acidez que por vezes chega
a ser brutal. Devido aos métodos de vinificação
usados, onde sofrem tudo o que poderíamos ima-
ginar para um vinho, ganham nervos de aço. Muito
por isso são considerados vinhos indestrutíveis,
uma vez que poderemos abrir uma garrafa de um
Madeira e ir provando-a durante os próximos quatro
a seis meses, sem alterações percetíveis de qualidade.
A seguir revelamos um pouco do passado e do
presente de sete protagonistas do Vinho Madeira,
em resultado do mais recente périplo que a Revista
de Vinhos realizou à ilha, em julho. É um convite
renovado à descoberta de um território único, com
vinhos igualmente singulares.

De clima subtropical, com


invernos amenos e verões


quentes e húmidos, a vinha


é quase sempre plantada


em altitudes nunca


inferiores aos 150 metros.


O declive é acentuado,


havendo plantas muitas


vezes em terrenos com


mais de 25% de inclinação.


MADEIRA

@revistadevinhos setembro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 61

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