Revista de Vinhos - Edição 370 (2020-10)

(Antfer) #1

Numa região com as especificidades da Madeira, quem tra-
balha com mais de metade dos viticultores pode muito bem
ser considerado um gigante. É o caso da Justino ́s, que recebe
uva de cerca de 700 do total de 1.300 viticultores madei-
renses, processando uma média de 1,5 toneladas de uva por
vindima. A esmagadora maioria dela, 85%, é de Tinta Negra,
casta mal amada mas que recentemente começou a ser melhor
entendida e explorada, estando na origem de um conjunto
mais diversificado e interessante de vinhos.
A Justino’s tem uma génese familiar, que data de 1870. No
entanto, com esta designação foi apenas constituída em 1953,
em resultado da reunião de outras empresas: A. de Freitas, C.R.
Gonçalves, Companhia Regional de Exportação de Vinhos
da Madeira, Companhia Vinícola da Madeira, J. Monteiro e
União Vinícola. Justino Henrique Freitas foi o fundador.
Em 1993 passou a integrar o grupo francês de vinhos e
bebidas espirituosas La Martiniquaise, o que se revelou deci-
sivo não apenas para solidificar a dimensão mas, sobretudo,
para marcar terreno na comercialização internacional dos
vinhos. A empresa passou entretanto do centro do Funchal
para instalações menos glamorosas mas mais generosas, no
Parque Industrial da Cancela.
É por lá que nos podemos deliciar com os grandes arma-
zéns de envelhecimento. No total, 4.300 cascos, com capa-
cidades que vão dos 225 aos 40.000 litros. Cerca de 60%
são de carvalho francês, perto de 40% de carvalho ameri-
cano, residualmente de outras paragens. A Justino ́s aprecia
o sal e pimenta de cascos usados de Armagnac e Cognac e
tem aumentado as experiências com os de Whisky, Bourbon,
Sauternes e Moscatel de Setúbal “sem beliscar a tipicidade do
Vinho Madeira”, garante-nos Juan Teixeira, o enólogo e dire-
tor-geral da casa.
Juan nasceu na Venezuela e está na Madeira desde os 10
anos. Viveu na Calheta com a avó e desses tempos guarda
memórias de uma sensação de liberdade que até aí desco-
nhecia. Interessou-se por veterinária, estudou na Escola
Agrária de Santarém e foi precisamente no Tejo que se apai-
xonou por vinhos. Regressou à Madeira em 2000 e ima-
gina-se a ficar por ali, a trabalhar com vinho, até ao final da
carreira. “Estou na Justino ́s há 20 anos e ainda não fiz um
Frasqueira”, realça.
Com ele, os vinhos da Justino ́s têm conhecido uma evo-
lução que merece ser realçada. Admite que um dos segredos
passou a ser uma nova prática seguida na vinificação, em que
as uvas destinadas a fortificar são tratadas com maior cuidado,
como se fossem dirigidas a vinhos tranquilos. Evita ao máximo
contactos prolongados com o oxigénio até ao momento da
fortificação, num esforço de preservação dos aromas primá-
rios de fruta. Interpreta a Tinta Negra como “casta camaleó-
nica” e admite ter ainda muito por aprender sobre Vinho da
Madeira. “Pouca coisa há escrita sobre o Vinho Madeira, é um
vinho muito famoso mas pouco conhecido”, observa.
Com uma adega que permite vinificar 8 milhões de litros,
a Justino ́s engarrafa anualmente 1,8 milhões de exem-
plares, 94% destinadas à exportação. Vinhos antigos, como
o Malvasia 1933, são experiências de prova absolutamente
memoráveis.


No total, 4.300 cascos, com capacidades que


vão dos 225 aos 40.000 litros. A Justino ́s


aprecia o sal e pimenta de cascos usados de


Armagnac e Cognac e tem aumentado as


experiências com os de Whisky, Bourbon,


Sauternes e Moscatel de Setúbal “sem


beliscar a tipicidade do Vinho Madeira”,


garante-nos Juan Teixeira.


MADEIRA

@revistadevinhos setembro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 65


JUSTINO ́S MADEIRA WINES
Parque Industrial da Cancela, Caniço, Santa Cruz
T. 291934257 / [email protected] / http://www.justinosmadeira.com
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