Revista de Vinhos - Edição 370 (2020-10)

(Antfer) #1

Entrar nas instalações da H.M. Borges, no centro do
Funchal, é irromper por um cenário cinematográfico. Do
chão aos tetos, das paredes ao mobiliário, tudo apresenta
uma patine muito particular, daquelas que só tempo con-
segue conferir.
Henrique Menezes Borges, o bisavô da geração que
atualmente lidera o negócio, fundou a empresa em 1877.
A acumulação inicial de stocks levou a que, em 1924,
tivesse que adquirir o atual e bonito edifício, construído
em finais do séc. XIX, onde funcionara uma fábrica de
cereais. Coube às gerações vindouras ir adaptando uma
área total de 1.600m2 para o que hoje vemos e que inclui
salas de provas e de receção de visitantes, escritório,
adega, laboratório, salas de envelhecimento e armazéns.
As irmãs Helena e Isabel Borges comandam os des-
tinos deste projeto familiar, que em termos de perfil pode
enquadrar-se numa matriz profundamente tradicional
dos Madeira. “Somos reconhecidos por termos vinhos
equilibrados e com genuinidade”, enfatiza Helena Borges.
O stock apreciável de vinhos velhos ajuda a garantir
uma consistência muito salutar, que particularmente se
expressa em blends como os H.M. Borges 10, 15 e 20
Anos.
Ivo Couto é o enólogo. Há 41 anos, quando chegou à
Madeira, pensou que iria trabalhar com cervejas, mas o
Vinho Madeira trocou-lhe as voltas. Ainda bem. Hoje é
reconhecido pelos pares, embora seja o primeiro a reco-
nhecer que continua a aprender bastante sobre solos,
castas e comportamento do envelhecimento dos vinhos
Madeira. Em prova gosta de focar as cores e os aromas
que vão chegando ao copo e se entrarmos na vetusta e
bem carismática sala do enólogo deparámo-nos com
autênticos perfumes, obtidos a partir de lágrimas que
teimam não largar as paredes dos copos vazios.
“As pipas são como as famílias. Cada pipa com o mesmo
vinho tem características diferentes, umas melhores,
outras piores. É praticamente uma seleção diária de
vinhos para os lotes”, explica, ao jeito de master blender,
Ivo Couto. Genericamente, o parque de cascos da H.M.
Borges tem idade significativa. Carvalho francês e ame-
ricano, com capacidades médias de 650 lts., que não
marcam em demasia os vinhos, antes os ajudam a arre-
dondar e aprimorar, mantendo-lhes o nervo que serve de
cartão identitário dos Madeira.
Numa das visitas às instalações da empresa, demo-
re-se pelos espaços de envelhecimento e atente no tra-
balho primoroso que cada casco aparenta ter recebido.
Aproveite os constantes jogos de luzes e de sombras para
conseguir fotografias inspiradoras, que ajudam a ilustrar
a atmosfera sempre misteriosa dos vinhos que vão enve-
lhecendo, por entre o calor dos dias e o ameno das noites,
por entre períodos de silêncio e o rebuliço do centro de
uma cidade.
Por ano, a H.M. Borges coloca no mercado uma média
de 200.000 garrafas, 85% das quais dirigidas a mercados
de exportação europeus, asiáticos e norte-americanos.


O stock apreciável de vinhos velhos


ajuda a garantir uma consistência


muito salutar, que particularmente


se expressa em blends como os


H.M. Borges 10, 15 e 20 Anos.


MADEIRA

H.M. BORGES
Rua 31 de janeiro, 83, Funchal
T. 291223247 / [email protected] / http://www.hmborges.com

@revistadevinhos setembro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 73

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