Revista de Vinhos - Edição 370 (2020-10)

(Antfer) #1
RV_ Assumiu a liderança do IVBAM em


  1. Que balanço faz até ao momento?
    PJ O balanço é muito positivo. É, muitas
    vezes, extremamente difícil assumir fun-
    ções que são inesperadas, como foi o caso.
    Inesperadamente tive esta nomeação para
    presidente do instituto e a adaptação foi bas-
    tante salvaguardada pela excelente equipa,
    muito bem preparada, que temos – da certi-
    ficação à promoção, da viticultura ao labora-
    tório. Estes três anos foram muito intensos,
    é um organismo muito trabalhoso e é com
    muito orgulho que o lidero, até porque o
    IVBAM tutela áreas extremamente impor-
    tantes e de reconhecimento mundial, como o
    vinho e o bordado. O Vinho Madeira, efetiva-
    mente, é de grande inspiração. Tenho muito
    sentido de dever público e de proximidade
    com os colaboradores do instituto, é com eles
    que conto para me ajudarem no sucesso deste
    organismo e dos produtores desta tutela.

    RV
    Em 2017 certamente não calculava ter
    que se confrontar com a atual pandemia.
    Em termos práticos, que impacto está a ter
    no Vinho Madeira e quais as perspetivas
    para o segundo semestre deste ano e para
    2021?
    PJ Nunca pensamos viver esta situação,
    tivemos que nos adaptar. O setor do vinho
    tem tido algumas dificuldades essencial-
    mente com a comercialização, na medida
    em que está muito dependente de mercados
    externos. Em junho, por exemplo, tivemos
    quebras gerais de -65% nas exportações
    mundiais (-31% na Europa, -94% nos mer-
    cados terceiros). Tivemos que nos ajustar à
    nova situação, mas devemos retirar algo de
    positivo, nomeadamente maior celeridade
    nos processos de promoção online como res-
    posta ao adiamento dos eventos de comuni-
    cação e promoção presenciais.

    RV
    Olhando o futuro, centremo-nos na
    vinha. A área vitícola da Madeira é, como
    sabe, bastante diminuta, menos de 500
    hectares, e muitas das parcelas obedecem
    a uma viticultura de fim de semana, na
    medida que os viticultores possuem outras


atividades profissionais a tempo inteiro. A
sustentabilidade da viticultura, a médio e a
longo prazos, é possível com este modelo?
PJ_ Efetivamente, a nossa viticultura é de
microfúndio, nem diria minifúndio. Grande
parte dos viticultores tem superfícies de ocu-
pação pequenísimas, que colocam em causa
a viabilidade económica. Procura-se que
os novos investimentos sejam em superfí-
cies maiores, por uma questão de economia
de escala e para que os viticultores possam
ter mais vantagens, passando a encarar a
viticultura como uma atividade de tempo
inteiro. Temos vários programas e incentivos
de apoio, inclusive com os quadros comuni-
tários de apoio, para ajustar as explorações
agrícolas a uma dimensão que permita a via-
bilidade económica e financeira. Na sustenta-
bilidade ambiental, que também se fala, todos
os viticultores têm hoje uma sensibilidade
maior, até porque as regras comunitárias
impostas ao setor da produção também têm
vindo a ajustar as mentalidades dos viticul-
tores. Espero que as empresas e os agentes
económicos possam rapidamente recuperar,
de forma a que os viticultores também se
sintam incentivados a continuar.

Paula Luísa Duarte Jardim
é licenciada em Engenharia
Agrícola pela Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro.
Trabalhou no Baixo Alente-
jo ainda antes de se fixar no
Funchal, onde exerceu várias
funções ligadas à esfera agríco-
la. Em 2017 foi nomeada pres-
idente do Instituto do Vinho,
do Bordado e do Artesanato da
Madeira (IVBAM), cargo que
ocupa deste então.
Nesta entrevista à Revista de
Vinhos, Paula Jardim analisa
como muito positivo o trabalho
desenvolvido na liderança do
instituto, refere-se ao abalo
que a pandemia está a causar
no setor e pronuncia-se sobre
os desafios futuros do Vinho
Madeira – da vinha à comer-
cialização.

A GRANDE ENTREVISTA

texto José João Santos e Nuno Guedes Vaz Pires / fotos Fabrice Demoulin

O Vinho Madeira é,


como gosto de lhe


chamar, um super vinho,


um vinho indestrutível.


As pessoas, com uma


garrafa de Vinho


Madeira, podem abrir


e ir apreciando o vinho,


é um vinho de longa


conservação sem que


haja alterações de


qualidade.


@revistadevinhos setembro 2020 · 370 ⁄ Revista de Vinhos · 83

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