Crusoé - Edição 124 (2020-09-11)

(Antfer) #1

Eduardo Paes é apenas um dos políticos que, embora mencionados em delações e
incluídos em planilhas de empreiteiras, tentarão triunfar nas urnas este ano – fazendo
figa para que a população esqueça o que eles fizeram no verão passado. O elenco dos
candidatos delatados não escolhe ideologias nem matizes partidários. Vai do DEM ao
PCdoB, passando, é claro, pelo sempre encrencado PT e pelos não menos enrolados
PTB, PSDB, PSB, PSD, PDT, Progressistas, Podemos e Republicanos – deste último
partido, faz parte do rol de aspirantes a renovar o mandato nas urnas o prefeito do Rio,
Marcelo Crivella.


Nesta quinta-feira, 10, dois dias após a operação contra Eduardo Paes, Crivella – o
mesmo que Paes acusou de estar sendo beneficiado com a ação contra ele – recebeu a
visita dos investigadores na prefeitura e no condomínio onde mora. O MP apura a
existência de um “QG da propina” dentro da Riotur, empresa municipal de turismo,
que foi delatado pelo doleiro Sergio Mizhay. Entre os alvos da operação está Mauro
Macedo, tesoureiro das campanhas de Crivella que teria operado outros esquemas para
o bispo licenciado da Igreja Universal, como o recebimento de cerca de 3 milhões de
reais da Fetranspor, a federação das empresas de ônibus, nas eleições de 2016 e 2010.


Curiosamente, as entregas de dinheiro vivo ao tesoureiro de Crivella há dez anos,
quando ele se reelegeu senador, foram feitas pela mesma transportadora de valores
que entregou os malotes da Odebrecht ao marqueteiro de Eduardo Paes, em 2012.
Além da delação do ex-presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira, as transações foram
confirmadas em depoimento por um funcionário do doleiro Álvaro Novis, operador
dos pagamentos ilícitos tanto da Odebrecht quanto da Fetranspor.


Ainda no Rio, delações sobre pagamentos de propina e caixa dois assombram as
candidaturas da petista Benedita da Silva e da ex-deputada Cristiane Brasil, do PTB,
filha de Roberto Jefferson. Em São Paulo, três dos principais pré-candidatos a prefeito
da capital também figuram em planilhas de propina ou foram acusados em delação
premiada. O deputado Celso Russomanno, do Republicanos, e o ex-governador Márcio
França, do PSB, foram acusados de receber caixa dois da Odebrecht em 2010. Na
eleição ao governo do estado, há dois anos, o governador João Doria chegou a explorar
o codinome atribuído a França pela empreiteira, “Paris”, em peças de propaganda
exibidas no horário eleitoral. Já o petista Jilmar Tatto figura nas delações do ex-
ministro Antonio Palocci e de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, como
beneficiário de caixa dois de 500 mil reais na eleição de 2010.


A lista de delatados na eleição paulistana inclui ainda o ex-ministro Orlando Silva,
candidato pelo PCdoB, que foi acusado de receber 3 milhões de reais da JBS em 2014.
O PSDB paulista também não está escapa incólume. Embora não tenha sido envolvido
pessoalmente em delações, o atual prefeito, Bruno Covas, do PSDB, foi indiretamente
atingido pela chamada Lava Jato Eleitoral, com a denúncia oferecida contra o ex-
governador Geraldo Alckmin, por suposto caixa dois de 11,3 milhões de reais da
Odebrecht nas eleições de 2010 e 2014. Alckmin seria o coordenador da campanha de
Covas, mas desistiu após virar réu por corrupção e lavagem de dinheiro em julho.

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