Crusoé - Edição 124 (2020-09-11)

(Antfer) #1

No interior do estado, a delação da empreiteira baiana também ameaça as reeleições
de influentes líderes partidários, como o tucano Duarte Nogueira, em Ribeirão Preto, e
o petista Edinho Silva, em Araraquara. Em São Bernardo do Campo, terra do ex-
presidente Lula, o ex-ministro Luiz Marinho, do PT, tentará retomar a prefeitura que
comandou por oito anos no auge da era petista com um enorme passivo político-
policial: a acusação de recebimento de 12 milhões de reais de propina da OAS em troca
de obras superfaturadas na cidade. Marinho aparece na delação da CCR,
concessionária de rodovias, juntamente com o companheiro de partido Emídio de
Souza, deputado estadual que tentará voltar à prefeitura de Osasco. Ele é acusado de
receber caixa 2 para a campanha de Aloizio Mercadante ao governo do estado em
2010.


Como essas serão as primeiras eleições municipais após as megadelações feitas na
Lava Jato, o impacto das acusações nos resultados das urnas locais só será testado
agora. Em Belo Horizonte, a planilha da Odebrecht faz sombra aos dois principais
nomes do campo da esquerda na disputa contra o atual prefeito Alexandre Kalil, do
PSD, na capital mineira. Tanto o petista Nilmário Miranda quanto o deputado Júlio
Delgado, pré-candidato pelo PSB, aparecem na relação de caixa 2 da empreiteira em
2010.


Já em Salvador, a acusação de recebimento de 250 mil reais em doações da Odebrecht
para defender os interesses da empreiteira na tramitação de uma Medida Provisória no
Congresso não inibiu o deputado João Carlos Bacelar de lançar sua candidatura à
prefeitura de Salvador pelo Podemos. No páreo também está a ex-senadora Lídice da
Mata, do PSB, suspeita de receber 200 mil da empreiteira baiana em sua eleição ao
Senado em 2010. No Recife, é o ex-ministro Mendonça Filho, pré-candidato do DEM,
que terá de explicar aos eleitores o pagamento de 100 mil reais que a UTC teria feito a
ele há seis anos ou torcer para que o assunto tenha sido esquecido.


Jogar uma cortina de fumaça sobre o tema corrupção será mais complicado na capital
paranaense, berço da Lava Jato. Lá, dois parlamentares que postulam a prefeitura
foram citados em delações. O emedebista João Arruda foi acusado por um ex-
superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná de receber propina de
frigoríficos da região durante a Operação Carne Fraca. Já o ex-prefeito Gustavo Fruet,
do PDT, é um dos nomes listados por Benedicto Junior, ex-executivo da Odebrecht,
como beneficiário de 200 mil reais de caixa 2 nas eleições de 2010 e 2012. Ainda no
sul do país, a planilha do Departamento de Operações Estruturadas da empreiteira
baiana expõe candidatas a prefeita de espectros políticos antagônicos. Em
Florianópolis, Angela Amin, do Progressistas, e em Porto Alegre, Manuela D’Ávila, do
PCdoB.


Com tantos candidatos suspeitos nas mais variadas modalidades e em diferentes
proporções, não é de se espantar que algumas campanhas acabem por exaltar quem
roubou em menor escala, numa versão provavelmente menos escrachada do que a
protagonizada no último domingo, 6, por José Maria Monção, ex-prefeito da cidade de

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