Crusoé - Edição 124 (2020-09-11)

(Antfer) #1

disso, seguiu como “o mais soviético dos ex-estados soviéticos”, nas palavras de
Maxim Samorukov, do Centro Carnegie de Moscou. Passou a viver de refinar o
petróleo russo e revendê-lo para o Ocidente. A prática propiciou estabilidade
econômica, postergando reformas de mercado e permitindo a manutenção da antiga
oligarquia. Lukashenko, um ex-diretor de uma fazenda coletiva, eleito presidente em
1994, foi quem mais se beneficiou dessa articulação comercial entre o Leste e o Oeste.


Reprodução/redes sociais

Putin e Lukashenko: russo quer afastar aliado da Otan e UE

Há alguns anos, Lukashenko começou a se aproximar dos Estados Unidos e da União
Europeia. Sanções contra a ditadura foram retiradas e o país deixou de ser visto como
mero satélite de Moscou. Na sua campanha para as eleições deste ano, Lukashenko
atacou frontalmente a Rússia e ordenou a prisão de supostos mercenários russos. Foi o
pior momento na relação bilateral. Contudo, quando os protestos começaram em
agosto, Lukashenko, a fim de se manter no poder, não hesitou em cortar os vínculos
com o Ocidente e fazer as pazes com a Rússia. Para Putin, não poderia haver regozijo
maior. Ao ter o presidente vizinho como refém, ele mantém a Belarus longe do
Ocidente, representado pela União Europeia e pela Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan).


A aproximação com a Rússia deve ampliar o abismo entre o ditador e a população. Nos
anos 1990, os bielorussos apoiaram o arcaísmo de Lukashenko porque viram nele uma
garantia contra a instabilidade econômica. Esse sentimento diluiu-se com os anos. No
ano passado, pesquisas mostraram que a maioria da população prefere trabalhar no
setor privado a ganhar salários estagnados em alguma estatal. Jovens que viajam com
frequência para a Polônia e para a Lituânia não suportam mais o comportamento
autoritário de Lukashenko, que chegou a visitar policiais antimotim com roupas
militares e um rifle nas mãos.


Compartilhe

Free download pdf