Crusoé - Edição 124 (2020-09-11)

(Antfer) #1

Eu, pessoalmente, imaginava que os crimes iriam cair por conta das medidas de
distanciamento social. As primeiras informações colhidas sobre os indicadores
criminais não confirmaram tal expectativa. Embora não oficiais, dados colhidos pelo
monitor da violência do G1 apontaram elevação do número de assassinatos em março
e abril de 2020, na comparação com os mesmos meses de 2019. Foram 4.151 em março
de 2020, contra 3.729 em março de 2019, e 3.950 em abril de 2020, contra 3.656 em
abril de 2019. É certo que, em fevereiro de 2020, já havia ocorrido um aumento do
número de homicídios, mas esse acréscimo pelo menos em parte encontra explicação
provável nos movimentos de paralisação das polícias estaduais naquele mês,
especialmente no Ceará.


Os impactos econômicos da pandemia ainda serão sentidos por longo período,
especialmente após o término do auxílio financeiro concedido pelo governo federal.
Talvez o fim dele e o agravamento da condição social e econômica leve a novo aumento
do número de crimes, embora ressalve-se que não há uma correlação necessária entre
pobreza e crime — aliás, não haveria crime de colarinho branco, se existisse.


De todo modo, as reduções havidas em 2018 e 2019 confirmam que a violência não é
um dado da natureza em relação a qual os brasileiros precisam se resignar. Sim, é
possível com políticas públicas consistentes reduzir a criminalidade.


A melhor política consiste na integração das forças de segurança pública em trabalhos
conjuntos, criando centros comuns de inteligência e de operações. Perdeu-se muito
tempo no Brasil discutindo-se a fusão da polícia civil com a militar. Não me parece
algo viável, mas aprofundar e profissionalizar a coordenação entre elas e mesmo com
as forças federais é algo bastante factível. Locais como o Centro Integrado de
Operações de Fronteira (Ciofi), que criamos em Foz do Iguaçu, podem fazer a
diferença nessa integração, assim como a Secretaria de Operações Integradas (Seopi),
que constituímos para coordenar ações das forças de segurança.


Políticas sociais, econômicas ou urbanas dirigidas a focos de violência nas cidades
podem fazer a diferença. Por exemplo, é conhecida a expressão de que o melhor
guarda é um poste de luz. Restaurar áreas urbanas degradadas podem fazer a
diferença. Se escolas de tempo integral não são uma realidade ainda possível em todo o
país, nada impede a sua implementação em áreas com elevada violência urbana, de
modo a retirar crianças e adolescentes das ruas pelo maior período de tempo possível.


É preciso, no entanto, focalizar políticas sociais com prevenção e repressão policial
coordenada e qualificada. Políticas sociais são relevantes, mas insuficientes.
Criminosos devem ser presos, mediante devido processo, e assim terem o seu poder
disruptivo no tecido social neutralizado. A reunião e focalização de políticas sociais
com ação policial foi o que tentamos fazer com o Em Frente Brasil.


Especial atenção deve ser dada ao desmantelamento de grupos criminais organizados,
com a prisão e o isolamento de líderes em presídios federais e o confisco do patrimônio
dessas gangues. A investigação e o processo devem ter por objetivo destruir a

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