Crusoé - Edição 124 (2020-09-11)

(Antfer) #1

Já falei, aqui em cima e em outra coluna, do fenômeno do stalinismo hipster nas redes
sociais e não pretendo bater mais palmas para os malucos que falam a sério no “legado
de Stálin”, ainda que essas palmas às vezes me ajudem a fechar uma coluna. Mas é
espantoso que haja gente disposta a debater, fora de algum esquete antigo do Monty
Python, o glorioso comunismo soviético, como se o Muro de Berlim não tivesse caído e
a própria URSS não tivesse se desmilinguido sozinha há cerca de 30 anos. Em algum
momento a Albânia de Enver Hoxha, farol do socialismo, voltará a ser hype —se bem
que, no PC do B, nunca deixou de ser.


(Um amigo tem a teoria de que gostar desse tipo de coisa é como adolescente curtir
black metal norueguês, aquele pessoal bacana que queimava igrejas e matava gente: é
o gosto por “coisas extremas”, que tende a passar com a idade. O problema é quando
os adultos chamam essa turma para a mesa deles, em vez de deixar trancada no quarto
de castigo, sem internet e sem Toddy.)



  • A volta aos anos 80 do século 15


Pois é: tem gente que não acha suficiente voltar à década de 80 do século 20 e quer ir
ainda mais longe, de volta àqueles tempos idílicos anteriores à presença do
colonizador europeu nas Américas. Aquela época de paz, harmonia e, uma vez ou
outra, sacrifícios humanos com paulada no crânio e gente esfolada viva.


Descobri que há um movimento pela “alimentação decolonizada” —certamente, de
gente tão paga-pau de americano que nem sabe escrever “descolonizada” em
português. Ele pede que a gente REFLITA sobre o que está no nosso prato, incluindo
café com leite, pão com manteiga (“nenhum desses alimentos é nativo de terras
brasileiras”) e o próprio prato, utensílio introduzido por europeus. Afinal, os felizes e
risonhos habitantes de Abya Yala, como a América Latina “era chamada por seus povos
de origem”, usavam cumbucas e comiam com a mão.


O pior dessa história é a ofensa à minha dignidade de gordo: ai de quem ousar mexer
com meu café com leite e meu pão com manteiga. Vá você aprender tupi-guarani e
fazer fogueira na sua sala para cozinhar uma mandioca, ô cretino.




A GOIABICE DA SEMANA


Nesta semana, não há rival possível: o troféu TEM de ir para a bancada do PCdoB
aprovando por unanimidade, em julho, aquela emenda concedendo às igrejas um
perdão de dívidas tributárias que podem chegar a R$ 1 bilhão, coisinha pouca.
Também não dá para não adaptar a frase atribuída ao Tim Maia: aqui no Bananão,
prostituta se apaixona, traficante se vicia e comunista perdoa um bilhão de dívida das
igrejas. Esse PC não tinha como ser mais do B.


PCdoB
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