Crusoé - Edição 124 (2020-09-11)

(Antfer) #1

conveniente eu estar em algum”, escreve ele. A uma semana da sabatina, Adriano
atualiza o assunto. “Me alinhei com claudio sobre um contato que ele pediu para
fazermos. Sem a presença dele.” No depoimento aos procuradores, Marcelo dirime
eventuais dúvidas sobre o episódio: ele confirma que Toffoli aceitou a oferta de ajuda
da Odebrecht e pediu que a empreiteira fizesse contato com pelo menos um senador.


“Nesse caso aqui você vê que foi minha iniciativa. Por que eu digo isso? Porque aí
depois, o Adriano bota: checarei o interesse dele e falo com Cláudio. Aí, eu digo: me
avise se conveniente eu estar. Aí, o Adriano fala: me alinhei com Claudio sobre um
contato que ele, o Toffoli, pediu para fazer. Quer dizer, provavelmente Adriano foi lá:
Toffoli, precisa de alguma ajuda? Toffoli deve ter dito: não, mas tem um senador em
especial que eu tô vendo alguma dificuldade , será que vocês podem me ajudar? Pelo
que tá aí... O que na verdade era mais do que comum. É o que o pessoal chamava de
beija-mão, todos os ministros depois que eram escolhidos e antes de serem aprovados,
eles faziam isso, e para fazer isso, muitas vezes eles buscavam empresários que
tinham... E nesse caso eu mesmo perguntei a Adriano: ó, você não quer checar com o
Toffoli se ele quer isso? E pelo retorno, ele pediu para falar com um.”


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Um dos procuradores indaga: “Em que sentido um juiz, um ministro poderia ser um
aliado da empresa?”. Marcelo, de novo recorrendo ao cuidado de sustentar que não via
ilegalidade no ato, diz: “Você ter um ministro que você ajudou ele”. “Na verdade é o
seguinte. O que que você cria a expectativa? Se você ajudou o cara de alguma maneira,
lá na frente ele recebe você, ele vai te escutar, cria uma boa vontade”, prossegue. Na
sequência, o empreiteiro sintetiza o relacionamento com Toffoli e diz o que esperava
desse relacionamento. “Existia, sim, essa relação, a gente tentou aproximação, uma das
razões que eu sempre dizia para o Adriano manter esse contato é porque eu achava
que era uma pessoa que tinha o potencial, que seria importante a gente ter ele como
um aliado futuro.”


As cobranças de Marcelo se sucedem. “Relacionamentos de longo prazo se cultivam
melhor em fases onde justamente não temos demandas imediatas. Comente com ele
qd (quando) quer comer uma boa comida baiana em SP”, escreve. “Veja se manda algo
para ele desejando feliz 2011 em nosso nome”, diz em outro e-mail, enviado a Adriano
mais adiante. “Ele estará lá por muitos anos e precisamos cultivá-lo para manter uma
parceria próxima”, afirma o empreiteiro em mais uma mensagem. A certa altura,
Marcelo Odebrecht faz um pedido: “Lembrem da paca que prometi”. Em razão desse
registro, especificamente, há um momento curioso no depoimento prestado aos
procuradores. O empresário, se antecipando a uma possível interpretação de que
“paca” poderia ser mais um dos tantos códigos que usava para tratar de vantagens

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