O Dia (2020-09-14)

(Antfer) #1

Nova tendência da gastronomia


Dark kitchens são sinal dos tempos de pandemia: muita comida, sim, mas sem consumo no local


DIVULGAÇÃO/ HERMES SENNA

R


estaurantes sem le-
treiro na fachada ou
ambiente para rece-
ber o público. Achou
incomum? Chamadas de dark,
cloud ou ghost kitchens, em
inglês, as cozinhas fantasmas
são a bola da vez dos empreen-
dedores do ramo gastronômi-
co. E funcionam da seguinte
maneira: os estabelecimentos
trabalham exclusivamente
com o serviço de entregas em
domicílio.
Para driblar a crise - inten-
sificada pela pandemia do co-
ronavírus - empreendedores
apostaram no delivery, já que
os estabelecimentos foram
obrigados a fechar as portas
por um período, devido às
medidas restritivas. Uma pes-
quisa do Sebrae, em parceria
com a Abrasel, indicou que,
antes da pandemia, 54% dos
empresários adotavam o de-
livery. Agora, esse percentual
subiu para 66%.
O empreendedor Samir
Almeida, de 31 anos, dono de
três dark kitchens na cidade
do Rio, migrou do setor imo-
biliário para o gastronômico
após superar uma falência, em



  1. Inicialmente, investiu na
    venda de pastéis, feitos na co-
    zinha de sua casa, em Quinti-
    no, na Zona Norte, e entregues
    por aplicativo.
    Em 2016, ele criou a ham-
    burgueria Bob Beef, que, ago-
    ra, funciona em três cozinhas
    fantasmas e atende o Grande
    Méier, Grande Tijuca, Centro
    e Zona Sul. Hoje, com mais de
    cinco mil pedidos pela deman-
    da virtual, Almeida fatura R$
    R$ 450 mil por mês.


Há quatro anos, Almeida
alugou um espaço com a co-
zinha híbrida - que funciona-
va como ponto físico e deli-
very. Em 2018, o empreende-
dor abriu a sua segunda filial
no Grajaú, na Zona Norte.
Pouco depois de abrir a loja
física, Samir fechou a unidade
após amargar com a operação
física. Então, decidiu apostar
totalmente nas cozinhas fan-
tasmas. Neste mês, o Centro
do Rio vai receber uma cozi-
nha fantasma da Bob Beef.
Já a pizzaria Trattoria Cario-

ca nasceu nessa crise provoca-
da pela pandemia. Os amigos
Victor Vidal e Vitor Salamoni
têm uma empresa de eventos
e precisaram traçar uma solu-
ção, já que as festas estão proi-
bidas. Eles resolveram inves-
tir e dividir uma dark kitchen
com Armando Freitas, chefe
de cozinha e amigo deles, que
já tinha um empreendimento
gastronômico. Por enquanto,
o restaurante entrega pela
Zona Sul e Centro.
“Está dando super certo, es-
tamos tentando enxergar essa
pandemia com olhos positi-
vos. Senão fosse ela, não abri-
ríamos o restaurante”, expli-
cou Vidal.

> A analista do Sebrae
Rio, Louise Nogueira,
esclarece que a cozi-
nha fantasma é uma
solução viável para o
cenário de crise. “São
cozinhas que podem
ser compartilhadas
com outros restauran-
tes, por exemplo. En-
tão, isso pode reduzir
os custos no momento
em que os faturamen-
tos despencaram, por
causa da pandemia”,
explicou, acrescentan-
do que a tendência das
dark kitchens já mi-
grou para cidades do
interior do estado.
A especialista pon-
tua outras vantagens.
“É possível adotar mais
variedade no cardápio,
incluir novos pratos,
porque o empreen-
dimento funciona só
como cozinha. E o em-
preendedor tem redu-
ção de vários custos de
pessoal, porque só se
concentra na cozinha,
e não no salão, que tem
suas complexidades
de operação”, esclare-
ce Louise. “Além disso,
não precisa ter o cuida-
do com a localização do
seu negócio, porque o
cliente não vai até lá”.

Vantagens de


uma cozinha


fantasma


DIVULGAÇÃO/TOMAS RANGEL

Reportagem da estagiária Letícia Moura,
sob supervisão de Bete Nogueira

Trattoria Carioca:
criação direta da
crise e dark kitchen
compartilhada

Samir Almeida:
adepto das
cozinhas
fantasmas

Delícias da Bob
Beef: palitos de
queijo com ketchup
de goiabada
A pandemia
acelerou o
crescimento do
mercado das dark
kitchens, algo que já
viria pela frente”
SAMIR ALMEIDA, dono da
hamburgueria Bob Beef

O DIA I SEGUNDA-FEIRA, 14. 9. 2020 RIO DE JANEIRO 5


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