Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

Elegemos o ensino a mais dispensável das atividades


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Saúde
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Daniel Youssef Bargieri e Roberto R. Moraes
Barros


Há décadas os debates políticos encontram raro
consenso no discurso sobre a necessidade de
desenvolvermos um sistema de educação de qualidade.
Ainda que historicamente a prática não confirme, ao
menos o discurso nos iludia sobre um suposto
reconhecimento da sociedade e da classe política de
que melhores condições sociais dependem de
educação.


Seis meses após o início da pandemia do novo
coronavírus, no entanto, as escolas continuam
comportas fechadas e alunos afastados, embora, de
acordo com o Plano SP de retomada consciente das
atividades, a maioria dos setores já tem permissão para
funcionar, inclusive bares e restaurantes, academias e
salões de beleza.


Na prática, elegemos o ensino como a mais dispensável
de todas as nossas atividades. Se historicamente o
discurso ainda tratava de nos iludir, hoje nem mesmo
ele ensaia alguma defesa da educação pelo futuro.


Os argumentos usados pelo prefeito Bruno Covas
defendendo a manutenção das escolas fechadas são
sanitários. Segundo Covas, a volta às aulas seria
arriscada, pois um inquérito sorológico demonstrou que
"apenas" 20% dos alunos já foram infectados.

Em estudo recente, pesquisadores da Universidade de
Oxford, em colaboração com brasileiros do Instituto de
Ciências Biomédicas da USE estimaram que a
imunidade coletiva ao novo coronavírus possa ser
atingida com cerca de 20% de infectados. Ou seja, é
possível que já haja alto nível de imunidade coletiva nos
alunos da rede municipal, reduzindo a transmissão.

Outro argumento usado por Covas é que 70% das
infecções dos alunos da rede municipal foram
assintomáticas e não seriam, portanto, detectadas por
medidas de controle de entrada, como checagem de
temperatura.

De fato, um estudo recente publicado na Nature
Medicine demonstrou que 71% das infecções em
crianças até nove anos são assintomáticas. O que
Covas omite, talvez por ignorar, é que em outros grupos
da população a proporção de infecções assintomáticas
é muito próxima e, ainda assim, esses grupos já
retomaram ao menos parcialmente suas atividades.

O mesmo estudo relatou que, nos adultos, 73% das
infecções em pessoas entre 20 e 29 anos são
assintomáticas; 67% em pessoas entre 30 e 39 anos;
60% empessoas entre 40 e 49 anos; e até 51% na
queles entre 50 e 59 anos.

Enquanto 7 milhões de pessoas com idade entre 20 e
59 anos da cidade de São Paulo (dados da Fundação
Seade) já circulam pela cidade, cerca de 2,5 milhões de
alunos matriculados no ensino básico (dados do IBGE)
estão impedidos de frequentar as escolas.

Outro dado importante nessa conta é que pessoas até
19 anos são duas vezes mais resistentes à infecção do
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