Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

João Pereira Coutinho - Quatro exigências e um funeral


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Ilustrada
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: João Pereira Coutinho


Novo código do Oscar atenta contra liberdade artística e
não sobrevive a fatos


João Pereira Coutinho


Escritor, doutor em ciência política pela Universidade
Católica Portuguesa


Parece um filme de Hollywood. Não é um filme de
Hollywood. A partir de 2024, só haverá indicação ao
Oscar de melhor filme para obras que promovam a
"diversidade".


Existem quatro exigências que a Academia divulgou. Os
filmes devem obedecer apelo menos duas. Não vou
cansar o leitor com seu conteúdo.


Simplificando, da trama aos atores, dos diretores aos
técnicos, sem esquecer os roteiristas, a ideia é atingir
um determinado porcentual de representação das
minorias. Caso contrário, adeus Oscar.


Eu prefiro dizer: adeus, arte. Não é grave. Fora de
Hollywood, haverá cinema em abundância para
consumir. Como diria Humphrey Bogart, teremos
sempre Paris.

Só estranho a forma eufórica como a medida foi
recebida pelos profissionais da sétima arte, eles que
serão as primeiras vítimas da nova ortodoxia.

Será que não entendem que a existência de um código
ideológico sancionatório é uma ameaça à liberdade
criativa? E que dificilmente encontrarão trabalho.pelo
menos nos grandes estúdios, se não se submeterem ao
chicote da "diversidade"?

O ponto, ao contrário do que imaginam os novos
zelotes, não está em gostar ou desgostar da real
diversidade. Muito menos em gostar ou desgostar da
justiça que ela deseja promover. Pessoalmente, prefiro
viver numa sociedade mais pluralista e justa a viver
numa tribo homogênea e radicalmente iníqua.

O ponto é outro: tentar impor uma única concepção do
mundo em matéria artística não é um gesto pluralista ou
justo. É uma repetição das tristes experiências estéticas
do século 20.

Lemos as diretrizes da Academia, em particular a
determinação de que a trama do filme deve se centrar
em minorias raciais, sexuais ou étnicas, e lembramos de
imediato os prêmios da velha União Soviética. Quem
não respeitasse os cânones do realismo social, podia
dizer adeus a uma carreira. Ou, então, optar pelo exílio,
antes que a Sibéria batesse à porta.

Com o fascismo, a mesma coisa. Quantos artistas e
escritores "decadentes" não tiveram de abandonar a
Aiemanha porque se recusavam a aceitar as imposições
do ministro Goebbels em busca de uma cultura
finalmente ariana?

Eis a moral da história: a verdadeira arte é sempre
destruída quando apolítica mete a pata.
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