Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Ilustrada
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Mas o novo código de Hollywood não é apenas um
atentado à liberdade artística. É uma exibição de virtude
que não sobrevive a certos fatos.


Um deles lida com a relação cada vez mais próxima
entre Hollywood e Pequim. Informa a revista Economist
que, em 2005, a Chi na representava US$ 275 milhões
no faturamento da indústria de cinema. Em 2019,
representou US$ 10 bilhões. De igual forma, o número
de salas de cinema no país passou de 4.000 para 70 mil
no mesmo período. Depois do mercado americano, o
mercado chinês é o segundo pulmão da indústria.


Isso significa, em termos práticos, que o regime
ditatorial de Pequim tem uma palavra importante, e por
vezes decisiva, sobre o conteúdo dos filmes americanos
que são exibidos na China.


Não falo apenas da proscrição de temas heréticos,
como Tiananmen, Taiwan e Tibete (nenhum dos
grandes estúdios se atreve a tocar nesses três Ts).


Falo de conteúdos mais anódinos, como cenas de
nudez ou representação de figuras sacras, que são
cortados com diligência e cobiça pela mesma indústria
que gosta de vender virtude aos outros.


Se a defesa da "diversidade" é para levar a sério, será
preciso recordar que a China não é 0 melhor parceiro
em matéria de democracia e direitos humanos? E,
falando de minorias, será preciso lembrar 0 triste
destino da minoria uigur, que apodrece nos campos de
concentração de Xinjiang?


Pelos vistos, é preciso: a Disney esteve em Xinjiang
para filmar "Mulan", o blockbuster sino-americano de



  1. Estranhamente, não escutou nada e não viu
    nada.


Parafraseando George Orwell, todas as minorias são
iguais, mas algumas são mais iguais do que outras. Se,
por delirante hipótese, houvesse um filme sobre as
tributações dos muçulmanos uigures na China, ele até
poderia cumprir todas as diretrizes de Hollywood. Mas


jamais seria premiado pelo simples motivo de que
jamais seria produzido.

Reacionários de esquerda ou de direita entendem que a
arte deve servir à política do momento. Eu prefiro uma
arte que sirva a individualidade de um criador.

Se essa individualidade se preocupa com minorias,
maiorias ou extra terrestres, é de secundária
importância. Últimas modas nunca salvaram medíocres
artistas.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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