Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

A HORA DA CIÊNCIA - Covid-19 e seus enigmas


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Sociedade
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Margareth Dalcolmo


Já são cerca de 29 milhões de casos e 918 mil mortes
por Covid-19 no mundo, conforme divulgado pela
Organização Mundial da Saúde. Enquanto isso, no
Brasil, que ultrapassou vários países com sua pesada
carga epidemiológica, presenciamos mais um fim de
semana de grandes aglomerações. Isso se dá a partir
de aberturas autorizadas pelas prefeituras, baseadas
em modelos teóricos que, sujeitos a análises realistas
da taxa de transmissibilidade regional e local, não
seriam recomendáveis.


Presenciamos novamente esse comportamento coletivo,
difícil de se definir ou adjetivar, que lotou praias e
balneários, bares e áreas de lazer, destacando o
negacionismo ao qual muitos de nós já nos referimos
em manifestações jornalísticas, científicas e até
médicas. Diferentemente do que definem os modelos
normativos, seres humanos fogem do padrão racional,
sobretudo diante de situações ameaçadoras.


Mesmo na ciência, onde experimentos devem ser
repetidos muitas vezes para serem demonstrados, não


se está imune ao erro sistemático. Porém, mesmo
diante de uma hipótese científica, cada instante é único
e não volta jamais. Na esfera pessoal, é isso que nos
confronta com a solidão, que nada mais é do que o
resgate das nossas próprias vidas. Ou o cansaço dela,
face ao impossível. Ou o quase inalcançável, esperado
há tanto tempo. A lucidez e o paradoxo são
perturbadores.

E nessa dialética temos a impressão, especialmente
nesse período epidêmico, de que estamos longe de
encontrar uma confortável harmonia entre a informação
verdadeira e a sua absorção social como tal.

Permanecem instigantes indagações no meio científico,
com pouco impacto na opinião pública até agora,
possivelmente suplantadas pelos vieses cognitivos que
levam à negação da pandemia.

Entre essas, a tão instigante pergunta sobre a
reinfecção, após ter passado pela doença.

Não está demonstrado haver reinfecção em curados,
além do caso de Hong Kong no qual se demonstrou que
a pessoa, um homem jovem, efetivamente se
contaminara com um genoma viral da China e, mais
tarde, com um europeu, porque viajara à Espanha.

O estudo seminal da revista "Nature" descrevendo que
imunidade em assintomáticos duraria no máximo três
meses, favorecendo a reinfecção, se mostra consistente
com os casos recentemente descritos e sob análise
inclusive no Brasil. A velocidade com a qual viemos
gerando conhecimento e respostas certamente nos
ajudará nesse sentido.

Outro grupo de questões sobre as quais se debruçam
grupos de pesquisadores de excelência diz respeito a
alternativas terapêuticas para a doença, em suas
diferentes fases de evolução. Estudos clínicos
adequados e controlados vão em breve responder de
modo definitivo sobre a utilidade ou não de vários
fármacos candidatos ao tratamento da Covid-19.
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