Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

As relações perigosas de Crivella


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Ainda que feitas em período eleitoral, são graves as
denúncias de corrupção dentro da prefeitura


Não se pode ignorar a possibilidade de motivação
política ao analisar a proliferação, em período eleitoral,
de operações policiais contra candidatos ou pré-
candidatos, como ocorreu nos últimos dias com o
prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos). Crivella
não é o único a ter de enfrentar os tentáculos da Justiça
às vésperas da eleição - Cristiane Brasil (PTB) e
Eduardo Paes (DEM) também foram alvos de
operações. Para além da eventual estranheza que a
coincidência de calendário cause, é preciso avaliar cada
ação pelo próprio mérito.


E, no mérito, são graves as denúncias do Ministério
Público do Rio que apontam o empresário Rafael Alves
como operador de um esquema que se estendia a mais
de 20 órgãos da prefeitura carioca, atingindo setores
essenciais como Saúde e Educação. De acordo com as
investigações, o apoio financeiro a Crivella na eleição
de 2016 transformou Alves em aliado influente nos
bastidores. Embora não ocupasse cargo no município,
mandava e desmandava no governo Crivella. Tinha até


sala na Cidade das Artes, na Barra, onde, diz o MP,
recebia malas de dinheiro.

Era ele, segundo a denúncia, quem decidia as dívidas
prioritárias que a prefeitura deveria saldar, à base de
propinas. De acordo com o MP, intermediava contratos,
fazia nomeações para cargos importantes - como o
irmão, Marcelo Alves, na presidência da Riotur - ,
exonerava funcionários e interferia em decisões
técnicas - em 2018, mandou suspender a demolição de
parte da casa do senador Romário, na Barra,
determinada pela Secretaria de Urbanismo.

Alves conseguiu até o que parecia improvável: que
Crivella, conhecido por desprezar o carnaval,
intercedesse para evitar o rebaixamento do Império
Serrano e da Grande Rio em 2018. Em mensagem
enviada ao doleiro Sérgio Mizrahy - que fez delação
premiada - , Alves deixa claro seu poder na prefeitura:
"Assim, todos viram que quem manda sou eu e ponto. A
caneta é minha, não de A ou B, e sim só minha".

As investigações mostram que ele tinha intimidade com
Crivella, seu vizinho no Condomínio Península, na
Barra. Entre maio de 2016 e março deste ano, eles
trocaram, pelo cálculo do MP, 1.949 mensagens.
Crivella chegou a ligar para um dos celulares de Alves
durante uma operação, em março. Desligou ao perceber
que não falava com ele - do outro lado da linha estava
um delegado. Na última quinta-feira, mandados de
busca e apreensão foram cumpridos na sede da
prefeitura, no Palácio da Cidade e na casa de Crivella,
cujo celular foi apreendido. Num despacho da
desembargadora Rosa Helena Guita, que autorizou a
Operação Hades, ela ressalta que "a subserviência do
prefeito a Rafael Alves é assustadora". Muita coisa
ainda pode vir à tona.

Crivella precisa prestar contas dessas relações
espúrias, inaceitáveis não só à Justiça, mas também à
população, refém de infindáveis esquemas de
corrupção, em que os recursos do Erário são drenados
por organizações criminosas. Que o esquema tenha
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