Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

Bolsonaro avança no projeto de demolir a diplomacia brasileira


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Apoio a americano no BID quebra tradição, desperta
reação de parceiros e aumenta isolamento do Brasil


O governo Bolsonaro avança no projeto de demolição
da política tradicional do Itamaraty: não subordinação
aos Estados Unidos e equidistância diplomática. Foi
decisivo o apoio brasileiro para que, pela primeira vez
em 60 anos, um americano assuma a presidência do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). É, na
gestão Bolsonaro, o ápice da subserviência ao interesse
americano.


Nascido na Flórida de pais cubanos, Maurício Claver-
Carone, linha-dura do trumpismo pinçado no mercado
financeiro, teve 66,8% de apoio do capital votante da
instituição financeira multilateral, numa eleição em que
se abstiveram parceiros de peso como Argentina, Chile
e México - recado claro de insatisfação com o
alinhamento automático do Planalto à Casa Branca e
prova de que a atitude do Brasil equivale a renunciar a
qualquer liderança relevante no continente.


É como se Bolsonaro repetisse a intenção de Carlos
Menem, revelada no final dos anos 1990 (gestão Bill


Clinton), de que a política externa argentina fosse uma
"relação carnal" com os Estados Unidos. O presidente
brasileiro pode aprender uma lição daquela diplomacia
exótica: a economia argentina soçobrou, sem contar
com qualquer ajuda especial do amigo do Norte.

A aproximação às cegas de parceiros internacionais,
estimulada à base de afinidades pessoais e ideológicas,
não costuma dar bons resultados. Bolsonaro, filhos e
seu grupo foram evidentemente logrados por Trump no
negacionismo da Covid-19, como prova a entrevista
concedida em março pelo presidente americano ao
jornalista Bob Woodward. Nela, Trump diz que
minimizava a doença para não causar pânico.
Bolsonaro foi na conversa e ainda terminou catequizado
pela lorota da cloroquina. Pelos números oficiais.
Estados Unidos e Brasil lideram o ranking de mortes
pelo novo coronavírus (194 mil e 132 mil).

Entre os efeitos colaterais da subserviência ao
ultraconservadorismo trumpista, está a classificação às
pressas, pelo Itamaraty, de telegramas enviados a
diplomatas na ONU com instruções para trabalharem
pela proibição do aborto e contra propostas não
discriminatórias de mulheres e meninas. O PSOL pediu
o material em 3 de agosto. O Itamaraty teria até 2 de
setembro para responder. Quando chegou o prazo, os
telegramas foram remetidos, já classificados como
"reservados".

Cada uma dessas ações fere preceitos constitucionais,
entendimentos do STF e a tradição da diplomacia
brasileira. O governo vai assim executando seu projeto
obscurantista e se afastando do mundo moderno,
democrático, progressista. Quer Trump vença ou não
em novembro, o atrelamento automático aos interesses
americanos é uma armadilha para o Brasil.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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