Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

JOSÉ CASADO - Nova maioria bolsonarista


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: JOSÉ CASADO


O relógio marcava 0h32m do 1º de abril quando Jair
Bolsonaro escreveu um dos seus primeiros tuítes: "O
Bolsa-farelo (família) vai manter esta turma no Poder".
Comentava a saída de Dilma Rousseff da Casa Civil
para se candidatar à sucessão de Lula.


Nove anos depois, Bolsonaro está criando o próprio
"Bolsa-farelo (família)". Acredita ser a melhor cartada
para viabilizar a reeleição em 2022. Numa trapaça da
história, repete Lula, que, em 2005, driblou os efeitos do
mensalão e abriu caminho ao novo mandato com o
Bolsa Família.


Desde julho, o Planalto recebe pesquisas indicando a
formação de nova maioria (um terço) na base eleitoral
bolsonarista. E composta por pobres, beneficiários do
"auxílio emergencial", residentes em pequenas e
médias cidades do Norte e do Nordeste. Substitui a fatia
do eleitorado de classe média, perdido nas metrópoles.


É adesão com discernimento. Quase metade
responsabiliza o presidente, mais do que governadores


e prefeitos, pela fragilidade do país na pandemia. No
rastro do seu negacionismo já se contam 132 mil
mortos.

Há, porém, claro respaldo a Bolsonaro, ancorado na
expectativa de continuidade da ajuda. Os pobres temem
desemprego e fome na crise do pós-pandemia.

É armadilha política porque, sem caixa, o governo terá
de escolher beneficiários, dividindo a nova maioria. Mas
dá a Bolsonaro a chance de se apropriar de um tema, a
desigualdade, monopolizado pela oposição.

A retórica sobre a concentração de renda foi eficiente
para o PT nas umas. Os resultados dos governos
petistas, porém, ficaram limitados: os beneficiários do
Bolsa Família representam só 21% da pobreza "visível"
no auxílio emergencial (66 milhões). Lula focou no
assistencialismo, descartou um programa amplo de
renda básica (não contributiva), como sugeria o ex-
senador Eduardo Suplicy, entre outros.

Bolsonaro quer seu "Bolsa-farelo (família)". Não propõe
ir além, reduzir a desigualdade nem ajudar "invisíveis" a
viver por conta própria. Como diz o sociólogo Paulo
Delgado, em ensaio recém-publicado, "por não cultivar a
arte do respeito, é o governo que mantém o pobre
fraco".

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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