Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

BERNARD APPY - Os municípios na reforma tributária


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

Autor: BERNARD APPY


Nas últimas semanas tem ganhado destaque no debate
sobre a reforma tributária uma proposta desenvolvida
pelos grandes municípios conhecida como Simplifica Já.
Tal proposta, consolidada na Emenda 144 à PEC 110,
mantém a separação entre o ICMS (estadual) e o ISS
(municipal), divergindo das propostas da Câmara (PEC
45) e do Senado (PEC 110), que propõem unificar o
ICMS, o ISS e tributos federais (PIS, Cofins e IPI) num
único Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).


Pela proposta do Simplifica Já, o ICMS passaria a ter
legislação nacional unificada e seria cobrado de forma
centralizada, por meio de um comitê gestor. A alíquota
incidente nas transações interestaduais seria reduzida
progressivamente, em até cinco anos, de modo a que
no final da transição o ICMS fosse cobrado no destino.


Já no caso do ISS, a proposta também sugere unificar
nacionalmente a legislação, estabelecendo uma
alíquota mínima e uma alíquota máxima do imposto.
Cada município deveria definir uma única alíquota
interna, que seria aplicável a todos os serviços sujeitos


ao ISS. Nas operações intermunicipais, o ISS seria
cobrado de forma centralizada por meio de um comitê
gestor, sendo destinada parcela equivalente à alíquota
mínima para o município de origem e a diferença entre a
alíquota interna e a alíquota mínima para o município de
destino, após uma transição de dez anos.

A proposta do Simplifica Já nasceu de uma
preocupação dos grandes municípios com os efeitos da
substituição do ISS pelo IBS, que incide sobre uma
base ampla de bens e serviços e cuja receita é
distribuída proporcionalmente ao consumo. Parte da
preocupação deve-se à potencial perda de receita de
alguns municípios que são grandes arrecadadores de
ISS. Parte se deve à percepção de que a receita do ISS
tende a crescer mais que a receita do IBS, por causa da
tendência de aumento da participação dos serviços no
PIB.

A preocupação dos grandes municípios é
compreensível, mas o Simplifica Já não é a solução
adequada. O principal problema da proposta é que ela
tem um impacto muito negativo sobre o crescimento. A
manutenção da segmentação entre a tributação de
mercadorias e de serviços inevitavelmente leva a
incidências cumulativas que afetam negativamente o
investimento e as exportações. Adicionalmente,
mantêm-se algumas importantes distorções do sistema
atual, como a menor tributação da construção em
alvenaria comparativamente à construção com
estruturas pré-fabricadas, o que reduz a produtividade.

A consequência é que o custo social da proposta é
muito superior ao benefício dos grandes municípios. Em
15 anos, os municípios ganhariam no máximo 0,4% do
PIB de receita, enquanto a redução do PIB,
relativamente ao que resultaria da aprovação da PEC
45, seria de pelo menos 3%.

Adicionalmente, apesar do nome, o Simplifica Já resulta
num sistema mais complexo que o do IBS previsto na
PEC 45. Enquanto neste último haveria apenas um
imposto e um sistema de cobrança, no Simplifica Já
Free download pdf