Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

PEDRO FERNANDO NERY - O auditor de costumes


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: PEDRO FERNANDO NERY


Muitas análises sobre a reforma administrativa se
concentram no risco de fazê-la sob o atual governo.
Para alguns, ela permitiria que o presidente na prática
acabasse com órgãos relevantes que o desagradam, e
que perseguisse servidores simplesmente por opinarem
contra ele. Um risco do atual arranjo, porém, é ignorado:
o das políticas dos atuais governantes serem
irreversíveis, ao menos para o erário.


Façamos um exercício de imaginação nos próximos
parágrafos. Imagine que o presidente consiga por
medida provisória criar um órgão novo e pioneiro.
Atendendo a pleitos da ministra Damares, contrata
milhares de novos auditores federais para trabalhar ali.
É a carreira de auditor federal de costumes.


Esse auditor azucrina a vida da população aplicando
inéditas e rigorosas interpretações para as normas
legais existentes. Seu foco vai do consumo de bebida
alcoólica em público à produção audiovisual a que
crianças possam sofrer exposição. Os auditores
federais de costumes rapidamente conquistam


equiparação com carreiras de nome parecido, mas que
ganham muito mais - elevando seu custo.

O ministro da Educação criaria graduações e pós-
graduações em globalismo em todas as universidades
federais, com milhares de vagas por ano e ensejando a
contratação correspondente de professores
concursados. O ministro do Meio Ambiente emplaca
também um novo curso em todas elas, o de
ambientalismo de resultados.

O ministro das Relações Exteriores consegue ainda
mais, a criação da Universidade Federal da Integração
com o Visegrado - Univil. Além dela, para facilitar a
cooperação com os novos aliados, são criados dezenas
de diplomas de letras/tradução em polonês, checo,
eslovaco e húngaro.

Já os novos agentes da Força Nacional pelo Nascituro
tentam enquadrar um amplo leque de condutas como
apologia ao aborto. Ainda, inspirado por Trump, o
governo cria a quarta força das FFAA, a Força Espacial,
sediada em Alcântara.

Insatisfeita com estes rumos, a população elege já no 1°
turno Guilherme Boulos como presidente da República.

Ele prometera desfazer todas estas medidas mas, sem
maioria no Congresso, não consegue sequer
reorganizar as estruturas criadas. Também não pode
demitir os auditores federais de costumes ou os novos
professores e servidores das universidades. Por isso,
fica sem os bilhões que precisava para cumprir suas
promessas de campanha.

Tentou ao menos colocar em outras atividades o grande
contingente de servidores, mas eles derrotam o governo
na Justiça: entende-se haver "desvio de função". Os
servidores, além de estáveis, têm o direito de trabalhar
com o que foram contratados para fazer.

O presidente Boulos quer cumprir sua principal
promessa de campanha: erradicar o desemprego. O
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