Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

Um degrau abaixo


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Apoio a americano no BID e isenção tarifária para
agradar Trump apequenam ainda mais o Itamaraty


Uma regra não escrita nos conclaves do Vaticano
estabelece que um papa nunca deve ser norte-
americano. O motivo, a concentração de musculatura
para aquela que já é a mais poderosa nação do mundo.


De forma mais explícita, as Nações Unidas não podem
ser lideradas por um cidadão dos Estados Unidos ou
dos outros quatro membros do Conselho de Segurança,
seu órgão decisório supremo.


O que dizer de um órgão com grande importância para
a economia do quintal geopolítico dos EUA, o BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento)?


Desde a sua fundação, em 1959, o órgão tem a
presidência ocupada por um latino-americano. Mas no
sábado (12), foi eleito para a função o norte-americano
Mauricio Claver-Carone, indicado por Donald Trump.
Um dos "falcões" da Casa Branca, assessor
presidencial para o Hemisfério Ocidental e defensor de
agressivas políticas contra regimes de esquerda na


região, Claver-Carone foi uma imposição de um Trump
cada vez mais acossado em busca de sua reeleição.

Em entrevista a esta Folha, Claver-Carone afirmou que
gostaria de ver sobrepostas ações do BID às do
programa De Volta às Américas, do governo em
Washington.

Tal iniciativa visa tirar empresas americanas da China e
trazê-las para países próximos dos EUA, por meio de
incentivos diversos.

Não que elas estejam fazendo fila: pesquisa da Câmara
de Comércio Americana em Xangai mostrou que 70%
de suas filiadas pretendem ficar na China, apesar da
instabilidade que a pandemia trouxe e que a Guerra Fria
2.0 movida por Trump vai manter, segundo creem.

Ao Brasil coube o patético papel de abaixar novamente
a cabeça aos desígnios do ídolo do presidente Jair
Bolsonaro. O BID é instrumento importante, tendo
emprestado US$ 35,3 bilhões de 2008 a 2019 a
governos e empresas brasileiras.

Mas a altivez de rede social do Itamaraty sob Ernesto
Araújo e seu padrinho Eduardo Bolsonaro limitou-se a
chancelar a manobra.

Araújo também foi ativo proponente da manutenção da
isenção de alíquota de importação para uma nova cota
de etanol americano, para alegria dos produtores do
chamado cinturão do milho, que em 2016 apoiaram
Trump.

A decisão, contra a qual protestou o setor agropecuário
brasileiro, fica mais indefensável por ter vindo após a
redução da cota de importação de aço do Brasil pelos
EUA.

Tal alinhamento, para endossar a aliança com Trump,
só aumentará o preço a ser pago em eventuais
negociações na hipótese de vitória do candidato Joe
Biden em novembro. Dificilmente o democrata, um
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