Clipping Banco Central (2020-09-15)

(Antfer) #1

Outro mundo é necessário; outro Brasil é preciso


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Tendência e Debates
terça-feira, 15 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Rogério Carvalho


Vivemos crises multidimensionais, sobrevivemos num
mundo irreconhecível


A humanidade vive um dos momentos mais dramáticos
de sua história. A pandemia de Covid-19 e a crise
econômica projetam insegurança sobre o futuro da
nossa civilização. À medida em que as mortes se
avolumam, avolumam-se também os desempregados,
os trabalhadores precarizados, os desassistidos de
direitos e de serviços públicos, os pobres e os
miseráveis.


Aumenta a desigualdade que separa quem pode
praticar o isolamento e aqueles que são obrigados a
arriscar suas vidas para sobreviver.


As cadeias produtivas estão desestruturadas. A
recessão é profunda e se estenderá por vários anos.


No caso do Brasil, conduzido por um governo
desumano e irresponsável, já se projeta queda do PIB,
que poderá se aproximar de dois dígitos.


No campo político, a pandemia tem aprofundado o
estresse das democracias, que se encontravam
pressionadas pela desigualdade e pelo desemprego
gerados pelo modelo neoliberal em crise. Por aqui, o
governo parece apostar no medo e na morte para
agredir as instituições e intentar um golpe que elimine
resistências ao fascismo oficializado.

Vivenciamos crises que se retroalimentam: sanitária,
econômica, social, democrática, ambiental e, também,
uma profunda crise humanitária e civilizatória.
Sobrevivemos num mundo irreconhecível, de espelhos
quebrados.

Enganam-se, contudo, aqueles que consideram que
essa é uma crise originada por um novo vírus. A causa
última da crise está em seres humanos contaminados
por velhas ideias e por políticas adoecidas. Na verdade,
ela é causada pelo carcomido modelo neoliberal,
associado à "financeirização" extrema do capital.

O capitalismo desregulado e "financeirizado" vem
corroendo as bases econômicas, sociais e políticas das
democracias. Não há democracia que se sustente sem
distribuição de renda, Estado de bem-estar social
robusto, classe média numerosa e classes
trabalhadoras plenas de direitos. Mas as políticas
neoliberais que beneficiam uma pequena minoria, sob o
pseudoargumento técnico de que são as escolhas
possíveis, erodem os pilares fundamentais das
democracias.

Vivemos a crise de um modelo insustentável: no que
tange à estabilidade do crescimento, pois promove
crises recorrentes; no que se refere à promoção do
bem-estar social, uma vez que aumenta a desigualdade
e a exclusão; no âmbito ambiental, já que cria a
necessidade de um crescimento predatório e
consumismo voraz. Mais grave ainda, insustentável no
que se relaciona à democracia.

É essa insustentabilidade multidimensional que está na
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