Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

Taxa do livro é pedra no caminho do desenvolvimento


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Tendência e Debates
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Paulo Werneck


Leitura e escrita atravessam e impulsionam todos os
setores econômicos


Tantas vezes brilhante em sua coluna, Marcos Lisboa
escorrega ao defender, nesta Folha, a taxação ao livro
proposta por Paulo Guedes ("Livros", 12.set.2020). É
triste ver a sua adesão a uma iniciativa que faz parte do
ataque geral à cultura, às artes, à educação e à ciência.
Não há como dissociar a ideia bibliofóbica de Guedes
de todo o obscurantismo que o cerca em Brasília.


Lisboa adere a dois pontos da argumentação do
ministro: o suposto elitismo do consumo de livros, o que
daria à isenção ares de "privilégio", e a defesa do
imposto como meio para criar políticas públicas para o
livro e a leitura.


Segundo a pesquisa Retratos da Leitura 2020, a classe
A foi a que mais deixou de ler de 2015 para cá,
enquanto as classes C e D vêm sustentando o nosso
mercado de livros. A pesquisa mostra que o fim de boas
políticas públicas foi decisivo para a erosão da leitura no


país (há outras causas, como a concorrência das
plataformas digitais). E assim vamos perdendo a janela
demográfica para nos tornarmos um país de leitores (ela
se fecha antes de 2040).

Quanto às bibliotecas, seria ingênuo acreditar que justo
agora nasceria uma política pública decente para o livro.
Nada aponta nessa direção. Conhecido por vender
terrenos na Lua ao mercado, Paulo Guedes agora fala
em distribuir livros de graça ao cidadão selenita.

Ao tratar o livro como mera opção de lazer, Lisboa
desconsidera o problema econômico representado pela
deficiência na leitura e na escrita, habilidades essenciais
para qualquer atividade, inclusive tratar um câncer ou
fazer música sertaneja (exemplos citados no artigo).

A leitura e a escrita atravessam e impulsionam todos os
setores econômicos. A taxa do livro é uma pedra no
caminho de futuros advogados, médicos, engenheiros,
professores. Poderíamos criar um índice de
desenvolvimento humano e econômico associado à
circulação de livros. Vamos aproveitar o debate e fazer
isso com o Insper, Marcos?

Saber ler e escrever é como saber fazer contas, ou
como ter certeza de que a terra é redonda. É o mínimo,
é o básico, é para todo mundo. E ainda não se inventou
um meio mais poderoso (nem mais barato) que o livro
para ensinar a ler e a escrever.

A ideia de Guedes ameaça um pilar do liberalismo â?"a
circulação de livrosâ?" e por isso deveria ser rechaçada
pelos liberais de boa cepa. O livro é a liberdade de
expressão encadernada. Os livros precisam circular
com a mais absoluta fluidez, pois transformam
indivíduos e a sociedade. Por isso eles são os primeiros
a ser proibidos (ou ameaçados com taxação) quando o
autoritarismo começa a mostrar as garras.

Marcos Lisboa é um quadro importante para que o
Brasil supere todo este pesadelo: precisamos de sua
sensibilidade e de seus olhos abertos. Repense sua
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