Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

Hélio Beltrão - O preço do arroz e o excesso de moeda


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Hélio Beltrão


Não culpe produtores e comerciantes; os reajustes vêm
do aumento do dinheiro em circulação


Hélio Beltrão


Engenheiro com especialização em finanças e MBA na
Universidade Coiumbia, é presidente do Instituto Mises
Brasil


Urukagina foi o primeiro reformista da história. Após
campanha contra os arbítrios do monarca anterior, foi
coroado rei de Lagash, na Suméria, em 2.350 a.C.


Entre outras medidas, Urukagi na aboliu o controle de
preços. Suas reformas chegaram a nós por meio da
escrita cuneiforme esculpida em impressionantes cones
de pedra, em uma verdadeira "declaração de direitos"
centrada no conceito de " liberdade" ou "amagi" que
teve ali seu primeiro registro histórico.


A história econômica é em essência uma narrativa de
4.400 anos consecutivos de fracassos de medidas


governamentais como os controles de preço de Lagash.

Seiscentos anos depois, por exemplo, o Código de
Hamurabi, de 282 leis, estabeleceu: tabelas de preços
fixos de aluguel de carroças, de armazenamento de
grãos, de serviços médicos, aluguel de barcos, e outros.
Houve declínio de comércio durante o reinado de
Hamurabi após comerciantes e mercadorias
escassearem. O tabelamento teve por consequência um
castigo não premeditado àqueles que o código
pretendia apoiar.

Portanto, nem tudo começou com os gregos. Mas os
helênicos não ficaram atrás em termos de controles de
preços. Durante o período clássico de Atenas, em 400
a. C., fiscais denominados "sitophylakes" impediam
preços 'abusivos' dos grãos, em uma antevisão do
Código de Defesa do Consumidor.

Lísias, escritor de discursos, em sua peça oratória 22,
"Contra os Comerciantes de Grãos", pediu em tribunal
ateniense a pena de morte para os comerciantes que
acumulassem ou aumentas sem preços em tempos de
escassez. Os atenienses chegaram até mesmo a
executar fiscais que não logravam êxito no tabelamento.

Até essa altura, as altas de preço eram geralmente
pontuais e derivadas dos chamados "choques de
oferta", ou quebras de safras. Já no Império Romano,
entrou em cena uma novidade: O fenômeno da inflação,
ou alta generalizada de preços, que se tomou política
pública.

Desde 269 a.C., ainda na República, o templo de Juno
Moneta (origem da palavra "moeda") cunhava o
"denarius" contendo 100% de prata. Mas, a partir de 64
d.C., os imperadores passaram a recunhá- Io
misturando metais mais baratos. Nero reduziu o
conteúdo de prata para 88% (lucro e inflação
instantâneos de 15%). O "denarius" seguiu sendo
continuamente depreciado por ligas metálicas até conter
apenas 0,5% de prata, em 2 68 d.C.
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