Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

MERVAL PEREIRA - Jogo bruto


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: MERVAL PEREIRA


O ministro Paulo Guedes trava com o presidente
Bolsonaro um jogo bruto que se revela na gíria
futebolística que ambos usam para dar seus recados.
Ontem o presidente anunciou pelas redes sociais que
daria um cartão vermelho a quem lhe propusesse
congelar as aposentadorias e cortar o auxílio a idosos e
deficientes para criar o Renda Brasil.


Semanas atrás, fora a vez de Guedes mandar seu
recado a Bolsonaro, ao queixar-se de uma crítica feita
sobre a proposta de extinção do abono salarial para
abrir espaço orçamentário para a ampliação do Bolsa
Família.


Bolsonaro avisou em público que a proposta não seria
enviada ao Congresso naqueles termos, pois não tiraria
"dos pobres para dar aos paupérrimos". O próprio
Guedes revelou sua conversa com Bolsonaro: "Pô,
presidente. Carrinho, entrada perigosa, ainda bem que
foi fora da área, senão era pênalti".


Toda essa linguagem cifrada traduz uma disputa que se


desenrola entre dois projetos de poder, o de reeleição
para Bolsonaro, e o de salvador da economia para
Guedes. A reeleição daria mais tempo a Guedes para
implantar seu projeto, mas a pandemia tirou o pouco
fôlego que a economia tinha para se reerguer, e com ela
surgiu o auxílio emergencial, que mudou a história.

Salvo pelo Congresso, que aumentou para R$ 500 a
proposta de R$ 200 apresentada pelo governo,
Bolsonaro mandou dar R$ 600 e ficou com os louros da
popularidade elevada. Recuperou no Nordeste o que
perdeu nas grandes cidades e capitais devido à
negligência no combate à Covid-19 e a atitudes
antidemocráticas.

A austeridade proposta pelo seu Posto Ipiranga foi
atropelada pela mágica da popularidade fácil, e
Bolsonaro resolveu criar o Renda Brasil, um Bolsa
Família turbinado. Diferentemente de Lula, que pegou
uma fase áurea do preço das commodities, não há hoje
sobra de caixa para uma renda básica que seria, na
melhor das hipóteses, três vezes menor que o auxílio
emergencial, embora um pouco maior que o Bolsa
Família.

Não há quem acredite que Bolsonaro tenha desistido do
Renda Brasil, mas será preciso descobrir de onde tirar o
dinheiro sem que os pobres se voltem contra o
presidente. Repete-se com Waldery Rodrigues,
secretário da Fazenda, o mesmo que aconteceu com
Marcos Cintra, da Receita Federal, que defendia o
imposto sobre transações financeiras digitais e acabou
demitido porque Bolsonaro não queria saber de recriar
uma espécie de CPMF.

A proposta voltou à mesa, depois que o presidente foi
convencido por Guedes de que seria preciso aumentar
a arrecadação, mas continua sofrendo resistência no
Congresso. Da mesma maneira, os cortes em
programas sociais para viabilizar o Renda Brasil são a
única solução sem furar o teto de gastos.

Pode ser que o secretário Waldery Rodrigues,
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