Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

ZUENIR VENTURA - No reino das propinas


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: ZUENIR VENTURA


Se o Rio não chegou ao fundo do poço, é porque o
nosso poço não tem fundo. Há pelo menos uma semana
as denúncias de corrupção no estado e no município
frequentam a primeira página do jornal. Ainda ontem, a
manchete foi a confissão de um empresário de que seu
grupo desviou R$ 50 milhões e de que Wilson Witzel
embolsou R$ 980 mil. Mas, como este se encontra a
caminho do impeachment, o problema agora é Marcelo
Crivella.


O prefeito era conhecido por sua incompetência como
gestor, não pela prática de corrupção, até que o
Ministério Público desvendou e escancarou o esquema
de propina cujo QG funcionaria na própria prefeitura.
Sem muito esforço, os investigadores encontraram
indícios de "bilionárias movimentações atípicas" até
onde não esperavam - na Igreja Universal do Reino de
Deus. Não foi difícil concluir que ela estava "sendo
utilizada como instrumento para lavagem de dinheiro,
fruto da endêmica corrupção instalada na alta cúpula da
administração municipal do Rio". Afinal, como eles
observaram, em um ano as contas da entidade religiosa


da qual o prefeito é bispo licenciado tiveram uma
movimentação de quase R$ 6 bilhões.

Talvez por confiar na impunidade, não tomavam
precaução sobre o que falavam. Só com a análise das
mensagens faz-se uma antologia do servilismo e da
pusilanimidade de um dos interlocutores, o prefeito. O
MP classificou o conteúdo de "perturbador".

Para a desembargadora Rosa Helena Guita, relatora do
caso no Tribunal de Justiça, é "assustadora a
subserviência" do prefeito a Rafael Alves. Este
personagem, que não tem cargo na prefeitura, é
chamado de "o homem-bomba" e, na verdade, parece
ser muito perigoso, pelo menos para o prefeito, que é
tratado com desrespeito e arrogância.

Uns poucos exemplos: "Não quero cargo nem status,
quero retorno do que está sendo investido."

"Covardia ou falta de palavra comigo, eu não vou
aceitar."

"Mas uma vez não honrando comigo a sua palavra".

"Eu não aceito isso, não aceito falta de palavra comigo.
Fui leal até aqui."

Mas quem deu a frase que pode servir de epígrafe a um
pedido de impeachment foi o também interlocutor, o ex-
marqueteiro da campanha de Crivella Marcello
Faulhaber: "Tudo debaixo de seu nariz. Esse é um
governo que rouba, que o prefeito sabe que rouba, e
que mesmo assim não faz nada".

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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