Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

MÍRIAM LEITÃO - Antes do próximo cartão vermelho


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Economia
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Reforma da Previdência

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Autor: Com Álvaro Gribel (de São Paulo)


O ministro Paulo Guedes atacou a imprensa, ou seres
incorpóreos, pela confusão que ele mesmo criou. Como
sempre, deu uma interpretação do comportamento do
presidente que o absolve de tudo e culpa outros. Falou
de fatos que ninguém está discutindo. "Você, com 51
milhões de desempregados, quer dar aumento de 20%,
30% do salário mínimo?" perguntou Guedes sem
ninguém entender a que ele se referia. Disse que o
cartão vermelho não é para ele. Aí quem ficou com a
cabeça pendurada foi o secretário Waldery Rodrigues.
Esse é o método Paulo Guedes de fugir da frigideira:
terceiriza a culpa, apresenta uma interpretação própria
dos eventos, faz uma declaração sem sentido,
apresenta um número absurdo.


Os fatos: desde que a equipe econômica decidiu criar o
Renda Brasil, os economistas do governo saíram à
procura de receita para a proposta. Anunciaram o
programa antes de formatálo. Depois saíram
enfileirando idéias. Algumas, muito ruins. O que não
está na mesa do Ministério já foi despachado para o
Congresso para ver se cola nos relatórios que o


senador Márcio Bittar (MDB-AC) está preparando. O
grande problema é que tudo é falado como se o plano
estivesse consolidado, e a discussão, amadurecida
internamente. Várias vezes pessoas da equipe disseram
que uma das propostas era usar o dinheiro do abono
salarial. Depois que Bolsonaro fulminou a tese, dizendo
que não se pode "tirar dos pobres para dar para os
paupérrimos", não apareceu o pai da ideia.

Ontem os jornais trouxeram dois estudos que estavam,
sim, sendo discutidos: congelar as aposentadorias e
pensões e reduzir o gasto com o Benefício de Prestação
Continuada (BPC). O presidente atacou os dois, disse
que de nada sabia, e que daria cartão vermelho a quem
dissesse. O que fez Paulo Guedes? Culpou a
imprensa. Disse que os jornalistas estavam fazendo
ilações, ligando pontos desconexos. "Como as primeiras
páginas de todos os jornais diziam que ia tirar dinheiro
dos idosos, dos frágeis e vulneráveis, ele repetiu o que
disse antes". E mais adiante: "Não é possível que você
abra os jornais e todas as manchetes são de que
querem tirar o dinheiro dos pobres, querem assaltar os
pobres para dar aos mais pobres ainda". Primeiro, as
manchetes não foram essas e sim as medidas que de
fato estavam sendo estudadas. Segundo, essa é a frase
do presidente.

Era uma vez um superministro. Paulo Guedes perde
diariamente uma batalha porque serve não a um projeto
econômico, mas sim a um projeto político que tem três
elementos: a reeleição, o populismo e o autoritarismo.
Por isso, a área econômica vem se enfraquecendo.
Ontem foi apenas mais um dia em que o presidente em
vez de demonstrar sua discordância em discussões
internas levou-as a público queimando seus auxiliares e
se fazendo de bonzinho. "É gente que não tem um
mínimo de coração ou entendimento de como vivem os
aposentados no Brasil", disse Bolsonaro, presidente de
um governo que fez a reforma da Previdência
preservando privilégios das categorias que ele protege.

A área de Guedes vem sendo comida pelas bordas. Foi
o que se viu na briga do arroz na semana passada. O
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