Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

Visto, lido e ouvido


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Opinião
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Circe Cunha (interina) //
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O edifício da Constituição de 88 balança


Nosso alicerce e estrutura política, desenhados pelo
texto constitucional de 1988 e que, em tese, serviriam
para dar sustentação robusta, perene e firme ao edifício
do Estado brasileiro, é, a cada quatro anos, modificado
ou adaptado às necessidades do governante que
chega.


Tais reformas, chamadas de Projeto de Emenda à
Constituição (PEC) vão, pouco a pouco, transformando
a Carta Magna, não numa inofensiva colcha de retalhos,
como muitos dizem, mas num edifício, onde colunas e
vigas e mesmo as fundações vão sendo demolidas e
substituídas por escoras de madeira provisórias e sem
segurança.


Como numa reforma, onde os projetos originais vão
sendo postos de lado, cada governante arruma um jeito
de providenciar seu "puxadinho" ou remendo, capaz
apenas de propiciar vazão para os desejos imediatos do


ocupante do Palácio do Planalto. Infelizmente, essa
sanha em mudar sistematicamente pontos essenciais
do texto também é feita a partir de cada nova
composição do Congresso, adaptando-o a novos planos
políticos.

Com isso, não seria surpresa se, lá adiante, todo o
prédio Brasil viesse a colapsar, da mesma forma como
já nos acostumamos a presenciar em nossas cidades,
os edifícios mal construídos ou que sofreram reformas
indevidas. Nesse caso, o que sobra desse desleixo
obreiro são, obviamente, mortos, escombros e muitos
prejuízos. Se seguissem como parâmetro o que prega a
boa técnica da arquitetura e da engenharia política,
como, aliás, é feito em países como os Estados Unidos,
onde a Constituição está, em seus pontos
fundamentais, praticamente intocada desde 1787, não
haveria maiores problemas.

Não é por outro motivo que aquele país apresenta tão
acentuada estabilidade política, econômica e social ao
longo de séculos. A questão com essa profusão de
PECs é que, num dado instante, o texto constitucional
torna-se incompreensível até para os doutos
constitucionalistas. O Supremo, como não poderia
deixar de ser, também aqui, contribui, à sua maneira,
para modificar o texto original, por meio de
interpretações de última hora e ao gosto e interesse de
alguns ministros ou de um padrinho seu.

Não espanta que nossas leis, muitas vezes, sejam
derrotadas nos tribunais da consciência ou nos foros da
ética. Por esse motivo, a sociedade brasileira tem, a
cada novo ciclo de quatro anos, que reaprender a andar
no limbo entre a legalidade e a legitimidade, ou entre
nenhuma coisa nem outra. Até mesmo o Marquês de
Sade (1740-1814), inspirador do chamado
sadomasoquismo, sabia que até o Universo poderia ser
regido apenas por uma lei, desde que fosse uma boa
lei. Pois como bem dizia: "Não há outro inferno para o
homem além da estupidez ou da maldade dos seus
semelhantes."
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