Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

Tudo pela reeleição


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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O presidente Jair Bolsonaro, como se sabe, não
governa - não só por sua patente incapacidade, mas
também, como está ficando a cada dia mais claro, por
cálculo político.


Quem governa deve necessariamente assumir
responsabilidades, e muitas vezes, em razão disso,
acaba por indispor-se com seu eleitorado, pois muitas
decisões duras devem ser tomadas mesmo que
acarretem impopularidade e risco eleitoral. Assim agem
os estadistas.


Já Bolsonaro, que só pensa em reeleição e jamais
desceu do palanque, tudo faz para se livrar do fardo
político que lhe foi designado na eleição de 2018.
Sempre que vê seu projeto pessoal ameaçado, não
titubeia: atribui a terceiros as consequências muitas
vezes nefastas de seu modo caótico de administrar o
País - e não raro esses terceiros fazem parte de seu
próprio governo. É espantoso.


O último episódio dessa série já constrangedora de
pusilanimidade foi a repreensão pública de Bolsonaro à
sua equipe econômica em razão da informação,


divulgada pelo secretário especial de Fazenda, Waldery
Rodrigues, de que o governo cogitava da hipótese de
congelar por dois anos o reajuste das aposentadorias
para financiar o Renda Brasil, programa com o qual o
presidente pretendia deixar sua marca na área social,
no lugar do Bolsa Família.

"Acordei hoje surpreendido por manchetes em todos os
jornais", disse Bolsonaro em vídeo divulgado ontem. Em
seu já conhecido linguajar trôpego, discursou: "Eu já
disse há poucas semanas que jamais vou tirar dinheiro
dos pobres para dar aos paupérrimos. Quem porventura
propor uma medida como essa, eu só posso dar um
cartão vermelho para essa pessoa. É gente que não
tem o mínimo de coração, não tem o mínimo de
entendimento de como vivem os aposentados do
Brasil".

A indignação de Bolsonaro contra gente de seu próprio
governo é o ponto alto de sua ofensiva para se dissociar
de tudo o que possa ameaçar sua reeleição. Já havia
sido assim no auge da pandemia de covid-19, em que
atribuiu ao Supremo Tribunal Federal, aos governadores
de Estado e a dois ministros da Saúde que se
recusaram a receitar cloroquina a responsabilidade pela
escalada da crise econômica e das mortes.

Também foi assim quando, recentemente, os preços
dos alimentos, em especial do arroz, subiram nos
supermercados: ignorando que o livre mercado está
inscrito na Constituição, o presidente fez pose de
campeão dos consumidores ao mandar o Ministério da
Justiça cobrar explicações dos empresários,
reinventando um tal de preço abusivo. O mesmo
comportamento se verificou em fevereiro deste ano,
quando Bolsonaro atribuiu aos governadores de Estado
a culpa pela alta dos preços dos combustíveis, pois
segundo ele não abriam mão de arrecadação de ICMS
e alguns só pensavam em reeleição.

O bode expiatório da vez é o Ministério da Economia. É
forçoso reconhecer que a proposta de congelar o
reajuste de aposentadorias para bancar um programa
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