Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

Recuperação e retórica


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Produto Interno Bruto

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O Brasil está crescendo 7,3% neste trimestre, a
recuperação é em V e a retomada nos próximos anos
será firme e consistente, proclamou o secretário de
Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo
Sachsida. Mais otimista que a maior parte do mercado,
a equipe do Ministério acaba de reafirmar projeções
para este e para o próximo ano - contração econômica
de 4,70% em 2020 e expansão de 3,20% em 2021. Mas
o otimismo exibido em entrevista coletiva na terça-feira
pode ser um tanto exagerado. Depois do tombo de 9,7%
no segundo trimestre, a recuperação atual é insuficiente
para tirar o País do buraco. Além disso, mesmo com
expansão de 3,2% em 2021, o Produto Interno Bruto
(PIB) continuará inferior ao de 2019.


Como o Brasil, muitos outros países deverão terminar o
próximo ano sem ter zerado a queda de 2020. Vista
desse ângulo, a posição brasileira poderá ser melhor
que as de várias potências. Mas essa vantagem, se
confirmada, será pouco relevante. Antes do novo
coronavírus, a economia nacional já estava fraca. Seu
PIB diminuiu 2,5% no primeiro trimestre. No ano anterior
havia aumentado apenas 1,1%. A indústria já definhava
antes da recessão de 2015-2016 e ainda perdeu


impulso no primeiro ano do novo governo.

Neste momento, a perspectiva de 3,2% de expansão
econômica no próximo ano pode até parecer animadora
para muitas pessoas. Segundo o secretário Sachsida,
essa estimativa é conservadora e o resultado efetivo
poderá ser melhor. Mas falta explicar como se
movimentará a economia. O desemprego poderá
diminuir um pouco nestes meses finais de 2020, mas no
começo do ano, como sempre ocorre, poderá haver um
ajuste e muita gente voltará para a rua.

O auxílio emergencial, agora reduzido a R$ 300 por
mês, será estendido até dezembro. Isso deverá
proporcionar algum vigor ao consumo, principal motor
da reativação desde maio. Nenhum membro da equipe
econômica explicou, até agora, como se manterá o
consumo em 2021, se a oferta de emprego continuar
muito limitada.

Além disso, o governo terá de cuidar de suas contas
com muito rigor, se quiser impor algum controle a seu
déficit primário. Estímulos excepcionais, autorizados
para uma situação de calamidade, terão de se encerrar
em 31 de dezembro deste ano. Nessa altura a dívida
pública estará próxima de 100% do PIB, segundo as
estimativas correntes.

O Brasil se manterá, por esse endividamento, muito fora
dos padrões considerados aceitáveis para uma
economia emergente. Sem um claro e confiável
compromisso de seriedade fiscal, será muito difícil,
talvez impossível, manter os juros básicos num patamar
confortá- vel para o Tesouro e estimulante para os
negócios.

Gente do mercado tem repetido essa advertência. O
risco é bem conhecido da equipe econômica. Mas
ninguém pode dizer com um mínimo de segurança se o
presidente, cada vez mais concentrado na campanha
pela reeleição, levará em conta esse tipo de problema.

A projeção de crescimento em 2022 foi rebaixada de
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